São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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A utopia verde

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Fosse o Palmeiras de hoje um partido político, seria um misto de duas coisas: o contraponto perfeito à "utopia possível", filosofia do governo Fernando Henrique Cardoso e a versão capitalista do "sem medo de ser feliz", de Lula (porque amparada nos recursos de uma multinacional, a Parmalat).
No futebol, a utopia possível é ser campeão, apenas. Em tese, está ao alcance de qualquer dos clubes participantes. Na prática, é possível para todos os chamados "grandes", permitindo-se esporádicas bicadas dos "pequenos".
Os cultores do possível dirão que o Palmeiras nem sequer atingiu esse patamar mínimo, posto que não é campeão de coisa alguma até agora. É uma maneira triste, pobre e limitada de ver a vida.
De que vale um título, festa de um dia só (o do título), se comparado à explosão de FIB (Felicidade Interna Bruta) que o glorioso Palestra vem proporcionando a seu público há quatro meses consecutivos (até agora)?
Ser campeão é gostoso, claro. Mas há maior prazer do que o de ver o inimigo render-se antes mesmo de o torneio terminar, como já o fez Juca Kfouri, corintiano empedernido?
Corintianos estão para o Palmeiras como Lula está para FHC e vice-versa. Condenados, uns e outros, a negar os méritos alheios, por mais evidentes que sejam. A utopia verde é essa capacidade de forçar até o inimigo a curvar-se ante a avassaladora demonstração de méritos do rival.
FHC talvez se torne campeão mundial das reformas. Mas será um título como o da Copa de 1974 para a Alemanha. Ficou registrado na história, é certo. Mas quem marcou a fogo a retina e a alma dos que ainda ousam sonhar foi a "laranja mecânica" holandesa.
E a vida, afinal, é sonho, já ensinou Calderón de la Barca e ensina agora Wanderley Luxemburgo.

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