São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996 |
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Insensível
FERNANDO RODRIGUES Brasília - O mais cômodo, hoje, 1º de Maio, seria sentar o malho no governo por ter concedido um reajuste de apenas 12% para o salário mínimo.Mas o governo FHC é rico em nuances e permite sempre várias interpretações -ou críticas- de um mesmo fato. Os reajustes dos aumentos do salário mínimo e das aposentadorias, por exemplo, são exemplares da insensibilidade política tucana. Antes, um resumo dos fatos. FHC foi informado de que o ideal seria não dar reajustes. Isso, do ponto de vista econômico. "Não tem dinheiro, presidente", ouvia dos assessores. Logo surgiram os conselhos mais políticos. "Alguma coisa temos de dar. É loucura não dar aumento para o mínimo e para os aposentados", argumentava-se no Planalto. Entre o político e o econômico, FHC preferiu o óbvio. Ordenou algum aumento. O passo seguinte seria encontrar um índice e uma justificativa. Essa história de índices é, evidentemente, pura embromação. Depois de muito pensar, resolveram dar 12% para o salário mínimo e 15% para os aposentados. Uma decisão política. Quem ganha salário mínimo é desorganizado. Não reclama. Já os 15 milhões de aposentados fazem muito barulho. Logo, aposentados receberam um reajuste mais alto. Em resumo, FHC quis agradar mais aos aposentados. Deu-se mal. E teria sido fácil evitar o problema. Segundo cálculos dos metalúrgicos de São Paulo, o reajuste integral da inflação fica em torno de 18,5%. Por causa de 3,5 pontos percentuais, FHC jogou uma legião de 15 milhões de pessoas contra seu governo. E o que são esses 3,5 pontos percentuais para as contas do INSS? Engana-se quem acha que é pouco. É muito, realmente. Cerca de US$ 2 bilhões a mais por ano. Bem menos da metade do que o governo encontrou na massa falida do Banco Nacional. Texto Anterior: A utopia verde Próximo Texto: A modernidade do choro Índice |
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