São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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A nova corrente do trigo

IVAN WEDEKIN

Durante décadas, a economia do trigo foi uma "corrente da felicidade" em benefício de seus participantes, com a conta sendo paga pelos contribuintes.
A regulamentação oficial era perfeitamente orquestrada. Nos extremos praticava-se subsídio tanto aos produtores, como aos consumidores.
No meio, o Banco do Brasil atuava comprando toda a safra, importando, armazenando, arcando com todas as despesas e repassando o produto aos moinhos.
Estes, por sua vez, operavam em regime de quotas do tipo "quem está fora não entra, quem está dentro não sai".
Na montagem do "Arquivo do Trigo" -um abrangente banco de dados, informações e políticas sobre o setor- vimos teses calculando que a política do trigo custou aos contribuintes, entre 67 e 89, nada menos que US$ 12,7 bilhões.
Em que pese o seu elevado custo social, o programa alargou a base de consumidores, gerou empregos na cidade e no campo e favoreceu a montagem de uma grande estrutura cooperativista no sul do país.
A desregulamentação do setor, em dezembro de 1990, cessou a orquestração e lançou os seus integrantes ao aprendizado da economia de mercado.
Agora o desafio é construir uma nova realidade, orientada para o consumidor final, perseguindo o objetivo de ampliar o valor real e o valor percebido pela sociedade com relação ao agribusiness do trigo, por meio de quatro estratégias.
A primeira é a racionalização da atividade, destinada a eliminar ou reduzir o impacto negativo causado por uma série de fatores externos e internos à cadeia do trigo, que se traduzem em vazamento de renda dos agentes econômicos e prejuízos aos consumidores.
Desmontar o verdadeiro cipoal tributário e montar uma cesta básica desonerada de imposto é peça fundamental desse esforço.
Para ter sucesso em mercados altamente competitivos, é fundamental que o sistema atue em bloco para reduzir a distância econômica entre produtor e consumidor, baixando custos e margens.
Isso só pode ser conseguido com esforço intenso em pesquisa e aumento de eficiência na produção agrícola, na moagem, na indústria de alimentos e na distribuição.
É preciso também implementar políticas públicas que promovam o desenvolvimento do mercado, alargando a base de consumidores.
Campanhas de alimentação para a população de renda baixa podem ser casadas com revisões tributárias, mesmo que pontuais.
A terceira estratégia é a reorganização institucional, com o estabelecimento de uma nova política setorial. A curto prazo, urge financiar o plantio e criar mecanismos para a comercialização.
O trigo nacional entra no mercado em desvantagem competitiva com o cereal do exterior, que pode ser comprado a prazo longo e juros internacionais.
A execução dessas estratégias permitirá que o agribusiness do trigo aumente o seu valor e alcance também um outro fim, que é a fixação de uma nova imagem junto à opinião pública.
O sonho de um maestro (o governo) de fora do sistema acabou. Resta aos integrantes do agribusiness do trigo construírem a sua própria parceria.

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