São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Cercado

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada vem do inquérito, da justiça tão prometida, mas o cerco em torno de Almir Gabriel vai-se fechando.
Não fosse ele tucano e a deposição já seria bem mais do que uma possibilidade -seria uma campanha.
O vídeo da reunião com os fazendeiros, ao lado do secretário de Segurança, é inquestionável, e Gabriel vai ter que apresentar mais do que lágrimas para explicar.
No vídeo ele ouve, sereno, um fazendeiro dizer:
- Nós temos gente infiltrada no meio deles... Nós estamos pagando...
E ele nada fez.
O secretário recebe uma lista e também ouve, sereno, de outro fazendeiro:
- Se retirassem essas pessoas, com certeza iria melhorar e muito.
Duas semanas e eram mortos os 19, pela polícia do secretário e do governador.
O vídeo foi levado ontem pelo presidente da Contag ao Ministério da Justiça, como mostraram as redes.
Apertando o cerco, também ontem depôs, afinal, a testemunha da Globo.
Deu nomes, foi "seguro e coerente", na descrição até dos integrantes do Inquérito Policial Militar.
O que ele estaria dizendo é que os fazendeiros (os mesmos da reunião com o governador) pagaram ao coronel (que foi enviado pelo governador) para matar os sem-terra, em especial, os líderes (os mesmos da lista entregue ao secretário).
Se comprovado, o cenário dá razão a Boris Casoy:
- O Pará é um faroeste.
O faroeste é aqui
Para ninguém dizer que só o Pará é um faroeste, surgiram as cenas de Santo André, do despejo de 1.500 famílias por 300 policiais porque um prefeito não quis pagar a conta de outro.
Cenas descritas como de "revolta e desespero", na Cultura, ou "desespero, correria, destruição", na Manchete.
É a tragédia semanal.

E-mail nelsonsa@folha.com.br

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