São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEM VOCAÇÃO

Fala-se muito em crescimento, inflação e outros indicadores gerais, mas hoje é a visão setorial a que mais revela sobre os rumos da economia.
Os dados do IBGE mostram o avanço relativo dos setores de serviços em detrimento da indústria e da agricultura. Depois do Plano Real, acentuou-se de forma impressionante a intensidade do processo.
Em parte a "terciarização" (predomínio do setor terciário) é explicada pelo rápido crescimento das importações e, portanto, pela substituição dos produtores por intermediários no comércio local. Outro fato explicativo são as duras medidas de contração do crédito, que levaram à redução do produto industrial. Finalmente, embora a safra agrícola em 1995 tenha sido boa em quantidade, houve perda de renda agrícola, como resultado de os preços desses produtos serem corrigidos abaixo da inflação.
Em parte, essa reestruturação industrial é positiva, pois associa-se a uma maior integração do país à economia internacional, contribuindo para a modernização do Brasil e para o controle do processo inflacionário.
Entre 90 e 93, as importações nacionais foram, em média, de US$ 22 bilhões ao ano. Em 95 chegaram a US$ 49,7 bilhões, levando o governo a favorecer medidas protecionistas.
Já os serviços não sofrem a concorrência de importações. Não se importam pizzas, hotéis ou médicos.
Mas a mesma informatização e avanço tecnológico que hoje desempregam e desindustrializam também limitam a expansão dos serviços. A contração no sistema bancário e a falência do setor público impedem o crescimento do setor.
A inflação baixa é uma benesse inestimável. Uma análise setorial, entretanto, revela uma transformação preocupante no PIB brasileiro.
A antiga "vocação agrícola" foi perdida, a "vocação industrial" cede terreno a passos largos, e mesmo o que se poderia imaginar como vocação para ser uma economia de serviços não passa, por enquanto, de uma alternativa extremamente frágil.

Texto Anterior: PÔR FIM AOS ABUSOS
Próximo Texto: Prisioneiros do presente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.