São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Prisioneiros do presente

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Engana-se quem pensa que apenas a esquerda critica as reformas. Veja-se, por exemplo, a avaliação que o Instituto Liberal faz da reforma administrativa.
Depois de defender "um Estado forte, concentrado em poucas atribuições que os cidadãos, em sua livre interação por meio do mercado, não podem exercer", o Instituto lista as funções desse tipo de Estado.
Menciona a manutenção do Estado de Direito, a defesa nacional, a manutenção da ordem interna e também "assegurar a igualdade de oportunidades aos cidadãos, garantindo o acesso à educação e à saúde".
E conclui: "Nenhuma dessas considerações permeia a discussão da reforma administrativa". Ela apenas procura "reformar o que existe, sem atentar para o fato de que a ordem existente não atende às necessidades da cidadania".
Muito bem. Parta-se, agora, para opinião de outra corrente de pensamento, expressa pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), um grupo empresarial não inteiramente afinado com o liberalismo.
Mauro Arruda, diretor do Iedi, entrevistado por uma "newsletter" empresarial (da Química), generaliza a crítica às reformas.
"Ainda que sejam necessárias, e são, não serão suficientes para levar o Brasil ao desenvolvimento econômico e social que precisamos", diz.
Mauro Arruda cunha, inclusive, uma expressão interessante (e verdadeira). "Estamos nos tornando prisioneiros do presente. O Brasil não discute mais o Brasil. Não discutimos onde queremos chegar e como, com qual perfil econômico e social queremos ser país de Primeiro Mundo etc".
A cruel ironia é que essa prisão se fechou pela mão de um grupo de intelectuais que, antes de chegar ao governo, não fazia outra coisa senão discutir o Brasil.

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