São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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'Tremia todo, parecia que explodiria'

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Cezar Scwinzekel, 20, foi preso com a namorada no último dia 30 de março, no Shopping Ibirapuera (zona sul de São Paulo), acusado de fazer compras com cédulas falsas.
Espancado por policiais e seguranças do shopping, foi levado com a namorada ao 15º Distrito Policial. Ali, diz ter sido barbaramente torturado com choques elétricos, chutes e socos.
Luiz Cezar trabalha com o pai em uma pequena empreiteira. Procurados pela Folha, o 15º DP e o departamento de segurança do shopping não quiseram se manifestar. No último dia 6, ainda sob forte emoção e temendo represálias da polícia, ele deu o seguinte depoimento à Folha:
"Depois de algemado e espancado no shopping, fui levado com minha namorada para o 15º Distrito Policial.
Pedia até pelo amor de Deus para avisarem a minha família. Os policiais diziam que isso era coisa de filme. Disseram que eu tinha pinta de 'boy' e que iam pedir caro para me entregar para outros presos.
No dia seguinte, vieram com papéis para eu assinar. Disse que só assinava se lesse. Me deram tapas e me obrigaram a assinar.
Me levaram para uma cela escura em que estavam outros presos. Alguns deles me disseram que não ouviam direito por causa de choques nos ouvidos. Falavam que um dos torturadores se chamava 'Bahia'.
No mesmo dia fui levado para uma outra sala. Os policiais fecharam as cortinas. Um policial começou a me dar tapas.
Mandaram eu tirar a roupa, amarraram minhas mãos, meus pés, passaram um cano por dentro, e me penduraram. Batiam nos meus pés com cassetete de borracha. Estava morrendo de dor. Não queria mais viver. Pedia pelo amor de Deus para parar.
Eram seis policiais, mas só dois me batiam. Pararam para tomar sorvete e voltaram dizendo que iam me dar uma dose forte para refrescar minha memória.
Aí eles ligaram um fio na tomada, um no cano e outro no meu pé. Depois colocavam o fio nas minhas pernas e nádegas.
A dor era tão grande que eu não sei como não enlouqueci. Meu corpo tremia todo. Parecia que ia explodir. Quando eles pararam, eu não conseguia ficar de pé. Mas eles me obrigavam a andar.
Tive ânsia de vômito e pedi água. Vomitei muito e mandaram que eu limpasse com minha calça. Enquanto limpava, batiam com cassetete nas minhas costas.
Depois, quando fui levado para a sala que estava antes, pensei que estava louco. Achava que tinha gente saindo das paredes para me torturar. Quando conseguia dormir, acordava com o coração pulando. Parecia que alguma coisa corria dentro de mim.
Ainda não me recuperei. Como fiz a denúncia, agora há estranhos rondando minha casa."

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