São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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IPC da Fipe faz o juro real ficar em apenas 1% ao ano

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Em abril, a aplicação de renda fixa que melhor remunerou o investidor deixou-o apenas 0,09% mais "rico". Uma taxa dessas equivale a 1,08% ao ano, desestimulante até para poupador japonês.
Este é o resultado da comparação da rentabilidade líquida do CDB de grande investidor com a inflação medida pelo IPC da Fipe.
O CDB prefixado colocado em agência no dia 1º de abril, e resgatado em 2 de maio, com 31 dias corridos e 20 úteis, pagava em média, para grandes quantias, 26,00% ao ano, ou 2,01% no período.
No resgate, o investidor ficou com apenas 1,71%, já que o Imposto de Renda, a partir deste ano, leva 15% do rendimento bruto.
Quem aplicou R$ 100 mil pôde retirar um mês depois, além do principal, R$ 1.710,00 líquidos.
Mas, se a desvalorização da moeda fosse medida pelo IPC da Fipe, que surpreendeu até os economistas do órgão ao chegar a 1,62%, os R$ 100 mil aplicados teriam menor poder de compra um mês depois.
O ganho real, portanto, teria sido de apenas R$ 90,00, contrapartida monetária daquele 0,09%.
Fato isolado
Esses resultados, embora reais, não devem assustar ninguém, afirmam executivos financeiros e o diretor de Política Monetária do Banco Central, Francisco Lopes.
Ainda mais agora, com inflação baixa, o investidor deve ter sempre em vista o médio e longo prazos, diz Eduardo Santalucia, gerente de investimentos do Sudameris.
Até mesmo a combalida caderneta de poupança permitiu ganho real de 1,64% no quadrimestre, embora represente 0,41% ao mês, ou 5% ao ano, menos do que o juro tradicional de 0,5% ao mês.
"O resultado da inflação em abril foi pontual, não é reversão de tendência", afirma Alexandre Zakia, executivo do banco BBA Creditanstalt, lembrando a pressão do reajuste dos combustíveis sobre o IPC da Fipe.
O Lloyds Bank prevê, para maio, um IPC da Fipe no intervalo entre 0,80% e 1,10%, com o que as aplicações voltariam a dar ganho real mais expressivo.
O CDB de grande investidor dará, neste mês, 1,97% bruto e 1,67% líquido. A poupança do dia 1º já definiu seu 1,0917% líquido.
Indexador discutível
O próprio uso do IPC da Fipe como régua para se medir ganho real é discutível.
O IGP-M, com peso maior dos preços no atacado, ficou em 0,32% no mês passado. Os cálculos de juro real com base neste índice oferecem resultados bem positivos.
O ganho no CDB de grande investidor seria de 1,39%, ou 17,95% ao ano. Na poupança, de 0,84% no mês (10,56% ao ano).
Há quem prefira uma "cesta" de índices ou o dólar comercial, que variou 0,46% em abril.
O próprio Banco Central não quer mais o juro indexado à inflação, ao contrário do que acontecia antes do Plano Real, afirma Zakia. "Hoje mudou. Importante é a média em prazos mais longos."
Poupança é caso à parte
Entre as aplicações que rendem juros, a que mais vem perdendo é a dos fundos de curto prazo, devido ao compulsório de 40%.
Mas este FIF não deve ser visto como investimento, alertam os analistas. É para o dinheiro que será gasto no dia-a-dia.
A poupança vem se dando mal porque a TR, da forma como é calculada, encolhe mais do que a queda dos juros registrada nos CDBs.
Em julho, cai o redutor da TR, e o achatamento desta taxa poderá ser neutralizado caso os juros continuem em queda mais lenta, como indica o mercado futuro.

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