São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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China faz ofensiva contra criminalidade

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Os telejornais exibem fotos de fugitivos procurados pela polícia, entrevistam um condenado à morte minutos antes da execução e transmitem julgamentos realizados em estádios de futebol abertos ao público.
A polícia intensifica sua presença nas ruas e anuncia aumento da captura de suspeitos como resultado da operação Golpe Duro, deslanchada pelo governo da China em abril para enfrentar a crescente criminalidade.
Com essa ofensiva, o governo chinês evidencia também o fracasso de sua política de usar a pena de morte, até com julgamentos abertos ao público em estádios de futebol, como um instrumento de intimidação na tentativa de combater a criminalidade.
Bala paga
Entidades pró-direitos humanos criticam a China por recorrer à pena de morte e também por usá-la para crimes não-violentos, como corrupção. A China ainda obriga a família do condenado a pagar pela bala usada no fuzilamento, cerca de 10 yuans (US$ 1,2).
O Partido Comunista deslanchou a operação Golpe Duro após verificar um aumento de 12,6% na criminalidade em janeiro e fevereiro deste ano, em comparação com o mesmo período de 1995.
"O mais chocante são os casos de roubos em instituições financeiras, em carros que transportam dinheiro e em joalherias, o banditismo rural, os assassinatos como vingança", escreveu a revista chinesa "Perspectiva", que reflete a visão do governo.
O combate ao narcotráfico e à prostituição emergiu também como prioridade da ofensiva anticrime, prevista para durar três meses.
Jornais, rádio e TV, controlados pelo Partido Comunista, notabilizaram-se nas últimas semanas por enfileirar a contabilidade diária de suspeitos presos e condenados executados com um tiro na nuca ou por um pelotão de fuzilamento.
Execuções
Na última quinta-feira, 19 pessoas, condenadas em sua maioria por assassinato, foram executadas nas cidades chinesas de Guangzhou e Panyu (sul), divulgou a agência de notícias "China News Service". Cerca de 2.000 pessoas presenciaram o anúncio da pena.
O "Diário da Juventude Pequim" anunciou que, entre 28 de abril e 6 de maio, a polícia da capital chinesa prendeu 588 fugitivos.
A criminalidade avançou junto com as reformas pró-capitalismo iniciadas em 1978 pelo Partido Comunista. A população testemunhou o acirramento das tensões sociais, com aumento das diferenças de renda, por exemplo.
No governo do dirigente Mao Tse-tung (1949-1976), a ortodoxia comunista sufocava diferenças sociais e mantinha um controle sobre a sociedade, que se afrouxou com a liberalização da economia.
Capitalismo
As luzes do capitalismo nas grandes cidades atraíram migrantes da zona rural em busca de trabalho. A polícia chinesa aponta a chegada desse exército de desempregados como um fator que contribui para aumento da criminalidade urbana.
O Partido Comunista, nos últimos anos, esforçava-se para esconder os efeitos do avanço rumo ao capitalismo, mas um assassinato em fevereiro mostrou que a criminalidade invadia áreas que o governo não podia tolerar.
Li Peiyao, vice-presidente do Parlamento chinês, foi morto a facadas em sua casa por um de seus guarda-costas. Era o sinal de que a criminalidade podia alcançar até mesmo dirigentes do país.

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