São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 1996
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Testemunha-chave contesta militares

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Um novo depoimento do ex-frei dominicano Yves do Amaral Lesbaupin reforça a tese de que o líder guerrilheiro Carlos Marighella teria sido morto numa ação policial organizada, sem ter reagido.
No depoimento, prestado domingo ao deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), o ex-frei disse ter certeza de que Marighella chegou sozinho à alameda Casa Branca (nos Jardins, São Paulo) na noite de 4 de novembro de 1969.
O depoimento vai integrar o dossiê sobre a morte de Marighella, que será entregue hoje à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos. Miranda representa a Comissão de Direitos Humanos da Câmara na Comissão Especial.
Lesbaupin contou ao deputado federal que ele e o frei Fernando Brito, que estavam presos desde o dia 2 de novembro, foram levados ao local num carro do Dops/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) e lá transferidos para um Fusca azul -o mesmo carro onde o corpo de Marighella foi encontrado.
O ex-frei disse que foi colocado ao volante do Fusca (estacionado do lado direito da rua), com frei Fernando ao seu lado. Os dois teriam recebido de policiais a orientação para sair do carro quando começassem os tiros.
Lesbaupin contou que viu Marighella aproximar-se pelo lado esquerdo, atravessando a rua. Quando o guerrilheiro estava no meio da rua, os tiros começaram.
Os dois frades teriam então sido arrancados do carro e postos deitados no chão, do lado direito do Fusca. O ex-frei disse que um pastor alemão foi colocado próximo para tomar conta dos frades enquanto a ação transcorria. Ao tentar se mexer, Lesbaupin levou uma mordida do cachorro na perna. "Lesbaupin tem certeza de que Marighella estava sozinho, não teve tempo de reagir e morreu no meio da rua", disse Miranda.
Com o depoimento de Lesbaupin, com a análise do laudo cadavérico de Marighella -que mostra que foi morto com um tiro à queima-roupa- e com um laudo que mostra que a arma do guerrilheiro não foi usada, Miranda pretende provar que ele estava dominado quando foi morto.
Com isso, a família teria direito à indenização prevista pela lei 9.140, de dezembro de 1995.

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