São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Quero me matar logo', diz matricida

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidiário Daniel Arruda, 29, diz estar arrependido por ter matado a mãe, Elisa Vieira Arruda, 61, a facadas na última sexta, antevéspera do Dia das Mães.
Confuso, ele teme ser morto por outros presos, mas afirma que pretende se suicidar "assim que der". "Só a morte pode me dar um pouco de paz", diz.
A polícia tenta transferir Arruda de volta ao presídio de Tremembé (135 km a nordeste da capital), em que cumpria pena por roubo e de onde saiu com licença para visitar a família no fim-de-semana.
Ele está preso no 26º distrito policial, no Sacomã (zona sul de São Paulo), onde a capacidade de mantê-lo em segurança é "limitada", segundo o delegado Francisco de Filippi, que cuida do caso.
Ontem, vestindo a calça que ganhou de presente da mãe horas antes de matá-la, ainda suja de sangue, Arruda concedeu a seguinte entrevista:
*
Folha - Por que você a matou?
Daniel Arruda - Eu tinha fumado maconha e crack, cheirado cocaína e bebido muito, mas não foi por causa da droga. Eu já usei assim antes e nunca machuquei ninguém. Na hora, eu fiquei fora de mim. Não sei explicar, nem me lembro direito. Eu não teria coragem de fazer isso. Uma coisa ruim encanou em mim.
Folha - Um espírito?
Arruda - Pode ser. Só caí na real de madrugada, quando estava sozinho aqui na cela.
Folha - Você está arrependido?
Arruda - Desde sexta-feira, não comi nada, não dormi, só tomei um gole de café. Para pagar o que fiz, só com a morte. Os caras (outros presos) vão me matar. Senão, eu mesmo vou me suicidar. Na primeira chance, me enforco. Só a morte para tirar esse peso da minha consciência.
Folha - Você tinha alguma mágoa de sua mãe?
Arruda - Não, eu não tinha o que dizer dela. Sempre foi trabalhadora. Meu pai morreu quando eu tinha quatro anos. Ela me criou e a meus quatro irmãos dando muito duro. Ela me visitava na prisão a cada 15 dias. Tinha passagem marcada para os Estados Unidos, na sexta, e ficou, só para me ver. Ela me deu esta calça e várias camisas quando cheguei em casa.
Folha - Mas antes do crime vocês discutiram?
Arruda - Ela reclamou porque eu cheguei em casa doidão, mas a discussão já tinha acabado. Ela falou que ia tomar banho, eu deitei no sofá. Quando vi, eu estava na cozinha com a faca na mão.
Folha - Você estava perturbado pela vida na prisão?
Arruda - Não. Eu ia pegar condicional em dois meses, estava trabalhando na colônia do presídio.
Folha - Teve estupro?
Arruda - Estupro não.

Texto Anterior: 'Policiais foram afastados'
Próximo Texto: Greve faz HC cancelar 49% das cirurgias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.