São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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A IMPRENSA

Como revelou pesquisa Datafolha publicada ontem, vista como um todo a imprensa é a instituição que goza de maior prestígio entre os paulistanos, que também lhe atribuem mais poder do que à Presidência da República ou às Forças Armadas.
O detalhe mais relevante do levantamento é a revelação de dois Brasis. Um deles prefere confiar cegamente na TV, à qual confere maior credibilidade do que aos meios impressos. Como pode ver o que acontece (e não apenas ler), supõe que o que vê é um retrato fiel da realidade, sem a mediação de editores ou, em casos extremos, de trucadores de imagens.
Já o outro, composto pelo público com renda maior do que 20 salários mínimos, nível superior de escolaridade e mesmo os mais jovens (de 16 a 25 anos de idade), prefere os jornais à TV no quesito confiabilidade.
Essa parcela, obviamente mais esclarecida, parece capaz de distinguir melhor o quanto há de realidade nas imagens dos meios eletrônicos e o quanto há de manipulação.
Por isso, prefere a mídia impressa, até porque, por sua formação, exige um detalhamento que a TV, por definição, não lhe oferece, ao menos em termos de noticiário.
No fundo, essa situação apenas reflete uma realidade brasileira mais ampla, que é a de uma sociedade cindida em duas partes, das quais uma, a maior, com pouco ou nenhum acesso à leitura, é mantida na ignorância e sujeita a toda manipulação; a outra, mais esclarecida, é a única que goza dos direitos da plena cidadania.
Além dessa diferença na avaliação dos diferentes tipos de mídia, a pesquisa também acaba sendo uma manifestação de desconfiança nos poderes públicos, tidos como menos poderosos do que a imprensa.
Não é uma novidade. Nos outros dois levantamentos realizados (outubro de 92 e dezembro de 95), houve resultados semelhantes, o que reforça a sensação de que a sociedade não está satisfeita com o modo como é governada, a ponto de confiar mais na mídia, cujo único poder é o de apontar erros e sugerir soluções. Mas não lhe cabe implementá-las.

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