São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996 |
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Acredite se quiser CLÓVIS ROSSI São Paulo - O Brasil está sendo informado, desde domingo, que o Brasil mudou. Fantástico. De graça, já seria absurdo. Ao custo estimado de R$ 2 milhões, nem se fala. Refiro-me à campanha institucional para injetar otimismo na pátria amada. Lembra-me a série de comunicados médicos durante a agonia do presidente Tancredo Neves. Em vez de (ou juntamente com) tentar curar o paciente à base de medicamentos ou outras práticas médicas, parte da equipe que cuidava de Tancredo resolveu "salvá-lo" à base de palavras em um boletim oficial. Deu no que deu. Talvez não houvesse mesmo salvação, mas o que acabou ficando ridículo foi o drible na realidade tentado por alguns médicos. Com a campanha do governo, há o mesmo risco. Otimismo ou auto-estima não são produtos à venda no primeiro supermercado da esquina. É parte de um complexo mecanismo de psicologia social, que muitas vezes não depende de fatores objetivos. É óbvio que, racionalmente, o Brasil de 14 de maio de 1996, até 18h20 (dia e horário em que escrevo), é melhor do que o Brasil de, digamos, 14 de maio de 1994, vésperas de lançamento do Plano Real. Como é também óbvio que o fato de se ter reduzido dramaticamente a inflação não eliminou a portentosa lista de problemas que o país continua tendo que suportar cotidianamente. As pessoas reagem a esse contraponto das mais diferentes maneiras, mas por decisão própria, que vem dos cantos mais obscuros da alma ou do cérebro humano. Convencê-las de que devem ser otimistas em função de um anúncio é imaginar que somos todos tontos. Estamos pessimistas, digamos. Aí, vemos um anúncio que mostra uma suposta razão para não o sermos. Basta para mudar o estado d'alma? Se o governo não vê melhor uso para o nosso dinheiro, pode depositar na minha conta. Texto Anterior: A IMPRENSA Próximo Texto: Demissões depois da reforma Índice |
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