São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Uma voz e um exemplo

CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Não conheço Francisco de Oliveira, ex-presidente do Cebrap e professor da USP. A nota introdutória de sua entrevista no "Jornal do Brasil" de anteontem informa que é militante do PT, partido que, em minha opinião, não tem competência nem para fazer oposição.
Mas não é o PT nem o professor Francisco de Oliveira que importam. Importa é o que ele disse.
Resumindo: não houve a apregoada distribuição de renda que o governo diz estar patrocinando e, sim, a queda do imposto inflacionário. "Para manter a estabilidade, o governo congelou a estrutura de distribuição de renda. (...) Os Estados estão condenados a ser algozes dos seus pobres para entrar na via perversa da globalização".
O professor analisa com lucidez a causa das últimas chacinas: "O presidente tem responsabilidade no massacre do Pará. (...) Ele diz que quem reclama seus direitos é inimigo da nação. Os trabalhadores e os mais pobres são tratados como inimigos da nação. Isso está desinibindo a direita".
É citado o edificante exemplo do Bresser Pereira, que considera o funcionalismo bem-pago e sem necessidade de reajuste. A respeito da besteira ministerial, Francisco de Oliveira comenta: "(De acordo com o ministro), não somos mais portadores de direitos. Somos sujeitos da necessidade. Nos remete ao estado da natureza, anterior à Revolução Francesa. O ministro se beneficiou da legislação trabalhista para receber uma indenização do grupo Pão de Açúcar. Pelo visto, a lei era boa para ele, mas não deve servir para os que vivem no mercado de trabalho brasileiro".
É isso aí. O governo está cheio desses exemplos e dessas vozes retrógradas travestidas de modernidade calhorda. Os exemplos são incontáveis, surgem todos os dias, revelando que a ética do atual grupo no poder é sibarita, mal-informada politicamente e burra administrativamente.

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