São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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FHC admite que negociou com ruralistas

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem que negociou com os parlamentares da bancada ruralista e da bancada mineira para facilitar a aprovação em definitivo da reforma da Previdência.
Em nota oficial, a Presidência da República afirmou que esse procedimento não vai se repetir, mesmo que corra o risco de derrotas no Congresso Nacional.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, afirmou, porém, que o governo rejeita classificar de "barganha" as negociações com as duas bancadas.
As declarações de Amaral foram dadas para explicar nota oficial de nove pontos divulgadas no final da tarde de ontem. O próprio FHC fez "a maior parte da nota" segundo o porta-voz. O acabamento coube ao Palácio do Planalto.
"(O presidente) acredita que a opinião pública e o Congresso compreenderão que o risco de derrotas causa dano menor ao país do que a transformação do Executivo e do Legislativo em instrumentos de negociação que possam, ainda que sem este propósito, parecer barganha às custas do Tesouro", diz o documento.
"Barganha"
Amaral afirmou que "o governo admite que passou essa impressão mas que não existe barganha, com recursos do Tesouro, nem no caso dos ruralistas nem no caso da Mendes Júnior".
O porta-voz disse ainda que, no caso dos ruralistas, o governo aceitou a pressão feita por considerar que alguns pedidos dos parlamentares tinham procedência.
"Se o governo está convencido que alguns dos argumentos da bancada ruralista ou do setor agrícola possam ter procedência, não há razão para que ele deixe de reconhecer isso por receio de que possa parecer barganha", afirmou.
Mas, lembrando o conteúdo da nota, o porta-voz disse que "o presidente não está disposto a aceitar mais esse fato (pressões de última hora) e deixar que isso se torne um hábito".
Exame posterior
Segundo Sergio Amaral, desde março o governo vinha analisando se algumas das disposições da MP (medida provisória) 1.475, que trata da capitalização do Banco do Brasil, não eram "rigorosas" demais com os ruralistas.
Quatro pontos desta MP, que tratam da securitização da dívida agrícola, foram retirados a pedido da bancada agrícola.
O governo vai examinar agora esses pontos, em separado, e estudar como pode aplicá-los -desde que atenda aos ruralistas. "O problema é complexo e tem de se ouvir as partes antes", disse Amaral, que não sabe se as novas regras virão por MP ou se por projeto de lei.

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