São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Corinthians não passava de um tigre de papel

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o time do Corinthians, como os maoístas diziam do imperialismo americano, não passava de um tigre de papel.
O Juca Kfouri está certo quando afirma que o fato de ter disputado vários torneios ao mesmo tempo (incluindo o inútil empate contra o Palmeiras, lá em São José do Rio Preto) atrapalhou a campanha do time na Libertadores.
Sem dúvida, a agenda sobrecarregada foi um fator que contribuiu negativamente para a campanha do alvinegro.
Mas não foi o decisivo. O decisivo, o fundamental, o substantivo é o seguinte: o Corinthians, em campo, não passava de um amontoado de jogadores, sem formatação de jogo, sem esquema tático, sem posicionamento.
Iludiu-se (como o Flamengo, há pouco tempo, iludiu-se com o seu supertime) com o fato de que bastava comprar ou alugar uma porção de jogadores talentosos e/ou experientes e títulos estavam assegurados.
Há muito, essa não é mais a realidade do futebol. Não se compram títulos comprando jogadores. As conquistas chegam após muito planejamento, muito trabalho e, sobretudo, com um conceito de futebol que se quer operar.
O Milan foi um supermercado de craques. Comprou Gullit, comprou Rikjaard, comprou Van Basten. Ganhou tudo. Mas teve, como liderança, a revolução no futebol empreendida por Arrigo Sacchi.
Depois foi a vez do Barcelona. Levou para a belíssima cidade da Catalunha o artilheiro Romário, o líbero Koeman, o veloz Stoichkov. Ganhou quase tudo. Mas tinha, como liderança, os conceitos futebolísticos inventados pelo holandês voador Johan Cruyff.
Tome o exemplo do São Paulo bicampeão do mundo (que, aliás, disputou mais jogos em uma temporada do que este Corinthians que está se esgarçando). Teve o Muller, teve o Raí, teve o Cafu. Mas, sobretudo, tinha um conceito de jogo dos mais belos que o futebol brasileiro já viu. A cabeça era de quem? Do grande Telê Santana, que, esperamos, ainda possa dar mais ao futebol.
O primeiro Palmeiras da geração Parmalat. Contratou o Edmundo, o Zinho, o César Sampaio, o Roberto Carlos. Só isso? Não. Teve o trabalho de Wanderley Luxemburgo a modelar o time, a posicioná-lo em campo. Mesmo assim, não conseguiu levar adiante o projeto Tóquio, para se ter uma idéia do tamanho do desafio.
O Corinthians, em primeiro lugar, contratou mal. Desperdiçou um monte de dinheiro com jogadores que não foram aprovados. Mas também contratou mal porque não sabia o que queria.
Quando um time tem um padrão, as contratações são peças que se encaixam na arquitetura. Quando um time não tem nada, procura contratar salvadores da pátria -nesses casos, a margem de erro é alta.
Não investiu em laterais/alas, insistiu no futebol violento e ultrapassado de Bernardo, não soube "puxar" Souza para a realidade das competições e não acertou na substituição de Viola. Jamais teve regularidade e consistência.
Enquanto deu, Marcelinho segurou o onda. E só.
Já o Grêmio é o contrário: um time moderno, objetivo, com padrão de jogo. Tá lá.

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