São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Falabella abusa em show de humor

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Louro, Alto, Solteiro Procura...", de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, certamente não é um monólogo, como anuncia a produção. Também não é bem um espetáculo solo de teatro.
Com 14 ou 15 personagens interpretadas por Miguel Falabella, está mais próximo de um show de humor.
Não são bem personagens, aliás, mas tipos, ou até caricaturas. "Um vaudeville de um homem só", na descrição do próprio comediante-autor. E algumas das caricaturas conhecidas de peças anteriores suas, como a "socialite" ou o escroque ligado a Brasília.
Como show, tem os excessos grosseiros de uma apresentação de humorista. "Dá uma merda celestial... Naquela época você já dava a bunda... Vá tomar no olho do seu cu..."
Tem muito mais, e muito mais baixo. É uma antologia de palavrões, o que também parece ser característico de Miguel Falabella como autor.
E exagera de tal maneira nas piadas sobre homossexuais e negros que avança pelo preconceito, ainda que o propósito, evidente, seja o contrário -acentuar a hipocrisia das personagens. "Mãe de negra não é nada: pior é ser mulher de veado... Veado não se reproduz, mas veado se alastra..."
Zélia
Certo, há trechos e tipos muito engraçados, caso de Zélia, uma mulher que comprou uma casa em Botafogo, bairro do Rio, que ela diz não ser bairro, mas "passagem". Outro exemplo, uma portuguesa que é sequestrada, luta e acaba por ferir o seu sequestrador de morro carioca.
Leonel Brizola, Botafogo, sequestro -o Rio de Janeiro é a cena de "Louro, Alto, Solteiro, Procura..." Em São Paulo, muitas das piadas perdem o sentido ou o impacto.
Miguel Falabella, até onde é possível notar, não adaptou o espetáculo -e mesmo as situações de maior humor, caso da "socialite" carioca que se exilou em Bali para fugir de Leonel Brizola, surgem deslocadas e distantes para o público de mais de mil paulistanos do teatro Cultura Artística.
Mas qualquer obstáculo é superado pelo impressionante fascínio de Miguel Falabella, a personalidade. O fenômeno vem-se tornando cada vez mais comum em teatro, com atores de televisão. Ano passado, o mesmo acontecia com Luís Fernando Guimarães, em "Cinco Vezes Comédia".
Faça o que quiser, com ou sem graça, a platéia reage extasiada. Uma reação de tamanhas proporções que mal se distingue entre o que é engraçado e o que é idolatria.
Que ninguém duvide, a reação se deve à televisão. A televisão em que Miguel Falabella surge com muito maior domínio e humor -em "Sai de Baixo", que aliás é gravado em teatro, com platéia, no Procópio Ferreira- do que no palco do Cultura Artística, com "Louro, Alto..."
No palco todo empilhado com móveis, antenas, plataforma, roupas, sem nada acrescentar, simples decoração, ele aparenta tensão, pressa. É engraçado, como engraçados são todos os que beberam no besteirol -mas nem parece mais estar à vontade. Em casa, mesmo, só na televisão.

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