São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Ballet Kirov quer manter a tradição intocada

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA,

O legendário Ballet Kirov, berço de Nijinsky, Anna Pavlova, Nureyev e Baryshinikov, realizará sua primeira turnê à América Latina no segundo semestre deste ano.
Depois de se apresentar no Chile e Argentina, excursionará por oito capitais brasileiras entre 17 de outubro e 14 de novembro.
No Teatro Municipal de São Paulo, de 22 a 27 de outubro, o elenco com cerca de 200 bailarinos e orquestra ao vivo dançará "La Bayadere" e "O Lago dos Cisnes".
Com música de Tchaikovsky, coreografia de Lev Ivanov e Marius Petipa, "O Lago" foi estreado pelo próprio Kirov em 1895, em seu histórico teatro-sede, o Maryinski, de São Petersburgo.
Nomes mágicos no mundo da dança, Kirov e Maryinski conservam o estilo vigoroso herdado da professora Agripina Vaganova (1879-1951), cujos ensinamentos continuam sendo preservados.
Hoje, o grandioso Teatro Maryinski ainda transmite a aura dos tempos imperiais, quando Tchaikovisky e o coreógrafo Marius Petipa reinavam sobre seu palco.
Através de seus corredores rústicos, chega-se aos cinco estúdios de ensaio do Kirov. Sob disciplina rígida, seu elenco ainda reúne bailarinos espetaculares, voltados para o repertório produzido principalmente no século passado.
Oleg Vinogradov, todo-poderoso diretor do Kirov desde 1977, está sendo substituído por Faruk Ruzimatov, primeiro bailarino da companhia. Segundo versões não confirmadas, após a queda do regime comunista Vinogradov estaria se apossando dos cachês de temporadas internacionais devidos aos bailarinos.
No entanto, nos bastidores do Kirov, pouco se pode saber além dos discursos oficiais mantidos pelos bailarinos, que ainda parecem não ter se libertado do condicionamento gerado pela vigilância comunista.
Fugindo às perguntas indesejáveis, Faruk Ruzimatov falou à Folha sobre seus planos para o Ballet Kirov.
*
Folha - Em recente visita ao Brasil, Maya Plissetskaya declarou que o balé russo está em decadência e que morrerá se não houver mudanças. Você concorda com essa afirmação?
Faruk Ruzimatov - Talvez Maya não tenha se referido ao Ballet Kirov em especial, mas a algum outro balé. No Kirov o nível artístico não decaiu, pelo contrário, a cada dia estão surgindo novos talentos. Não concordo com esta generalização, pois esta não é a realidade do Kirov. Aqui o nível continua altíssimo, sem nenhum sinal de decadência.
Folha - Como a atual situação política e econômica da Rússia tem se refletido no Ballet Kirov? A companhia está enfrentando uma transição?
Ruzimatov - Toda nova ordem política e econômica afeta todos os segmentos, inclusive as artes. Mas, no Kirov não podemos nos queixar. As turnês se multiplicam. Chovem convites a ponto de não podermos atender todos os países.
Tudo isto mantém muito bem a companhia. O Kirov já passou por crises, revoluções, mudanças de regime e continua com padrão artístico do mais alto nível.
Folha - Quais são seus próximos planos em relação ao Ballet Kirov?
Ruzimatov - Vou manter a tradição intacta. Quero preservar as versões originais das obras clássicas. Hoje há tantas versões da mesma obra, nem sei se os criadores gostariam disso.
Pretendemos fazer uma fundação com "copyright" para manter intacta esta maravilhosa tradição do balé clássico. Lógico que também temos planos de encomendar novas coreografias.
John Neumeier, do Ballet de Hamburgo, fará uma nova peça para nós.
Mas, na verdade, acho que não há tantos grandes coreógrafos no momento.

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