São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Na última coluna de 1994, sobre a importância jornalística dos números, abri o texto falando de uma confusão comum sobre o início do próximo milênio. Boa parte das pessoas acredita que será em 1º de janeiro de 2000, quando na realidade ele será inaugurado um ano depois. Descubro agora que isso só vale para o calendário gregoriano, não para os astrônomos.
A revelação surgiu numa coluna de Roger Jiménez, "defensor del lector" do jornal catalão "La Vanguardia". Jiménez -um dos diretores da ONO (v. acima)- apresentou uma curiosa observação de Carlos de Torres, responsável pela seção Almanaque da revista dominical do "Vanguardia".
Peço licença a Jiménez e Torres para reproduzi-la, também, para gosto dos leitores brasileiros que ainda sabem distinguir milhões de bilhões:
"Dionísio, o Exíguo, clérigo bizantino, tornou pública a cronologia do cristianismo no século 5º e definiu o nascimento de Cristo na data de 1º de janeiro do ano 1. Naquela época não existia o algarismo 0, importado da China séculos depois.
"Portanto, o calendário gregoriano saltou um ano para que pudessem coincidir o milênio gregoriano e o aritmético, e por esta razão década, século e milênio gregorianos se iniciam um ano mais tarde que os astronômicos ou aritméticos. Portanto, o milênio deve ser celebrado em 1º de janeiro de 2001.
"Para efeito de cálculo, medição de tempo etc., utiliza-se, como é natural, o calendário aritmético ou astronômico. Assim o tempo universal, atômico, de efemérides se inicia no século presente na data juliana 2415020.5, que é o 1º de janeiro de 1900 e, portanto, o milênio astronômico ou aritmético terá seu início em 1º de janeiro do ano 2000."
*
É uma outra maneira de justificar a conclusão que os mais animados já tiraram há muito tempo: a entrada do milênio pode ser comemorada duas vezes, algo que nem Matusalém conseguiu. Isso, claro, se ainda sobrar algum motivo para comemorações.

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