São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Os pessimistas

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

A "Revista de Economia Política", em sua edição de abril/junho deste ano, publica um interessante artigo do professor Jeffrey Sachs sobre a natureza das crises financeiras que, com grande frequência, assolam os chamados mercados emergentes.
Depois de esboçar uma tipologia das crises econômicas (como as fiscais, cambiais e bancárias) e de examinar os mecanismos capazes de detoná-las, o professor Jeffrey Sachs passa a investigar a sensibilidade dos regimes que utilizam a âncora cambial aos choques ou distúrbios mais comuns, num mundo onde os mercados financeiros e o comércio estão cada vez mais liberalizados e integrados.
A conclusão é muito clara: quanto maior a rigidez do compromisso cambial, maiores são os riscos de eclosão de crises financeiras.
Choques externos
Os mercados, diz o professor Sachs, "sabem" que esses regimes costumam fraquejar mais depressa diante de choques externos, e esse conhecimento, por sua vez, provoca movimentos mais intensos de especulação contra as taxas de câmbio.
A crise pode naturalmente se agravar, caso os governos locais ou o sistema bancário nacional tenham acumulado, durante o doce período da ancoragem, volumes significativos de dívida em moeda estrangeira. Temos aí uma situação em que um choque externo (por exemplo, uma subida das taxas de juros internacionais) ou uma simples elevação do risco percebido pelos emprestadores forâneos podem detonar uma crise cambial que, rapidamente, se transforma num grave problema fiscal e num desastre bancário.
Jeffrey Sachs reconhece que, depois de hiperinflações ou de períodos prolongados de alta inflação, não há outro remédio para restaurar o padrão monetário senão o recurso, com maior ou menor rigidez, à ancoragem da moeda nacional a uma divisa estrangeira reconhecidamente "forte". Mas, ao mesmo tempo, adverte para a necessidade de rápida flexibilização do compromisso cambial, sob pena de acumulação de efeitos nefastos a curto e a longo prazos.
Tese da conspiração
Esses argumentos, entre outros, têm sido esgrimidos por muitos brasileiros, entre empresários, jornalistas e economistas.
As autoridades econômicas parecem, no entanto, acreditar que tais opiniões se sustentam apenas na má vontade e no pessimismo. Para quem ficou entalado na arataca que inventou, é confortável supor que as próprias dificuldades decorrem de uma conspiração de invejosos, das manhas da esquerda burra ou da teimosia de funcionários corporativistas.
Não se sabe em qual desses escaninhos da mente tucana vai ser enquadrado o professor Sachs.
Há notícias de que está sendo cogitada a criação de uma outra categoria, "hors-concours", destinada a estrangeiros impertinentes. Esta galeria foi inaugurada pelo professor Dornbusch.

ado de São Paulo (governo Quércia).

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