São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Mergulho no escuro

MARCOS CINTRA

A reforma da Previdência está eivada de vícios. O ministro da pasta é beneficiário de aposentadoria precoce. Parlamentares acumulam, com seus vencimentos, generosas aposentadorias. Podem engordá-las após oito anos de mandato, por meio do IPC.
Relutante, a maioria aprovou relatório que, embora toque em supostos privilégios, ignora o dos parlamentares.
O absurdo não pára. Consta que se resiste às mudanças na Previdência, diante da inconfiabilidade dos dados. Fala-se que não se conhece o tamanho do rombo. O fundamental -uma demonstração analítica de receitas e custos, dados estatísticos e atuariais capazes de dar racionalidade e sustentação à proposta- não estaria disponível.
O próprio ministro declarou não saber qual será o resultado das mudanças que defende, mas confia na sua intuição. Confessa que não se apoiou em dados para as conceber e apresentar.
A reforma só agora foi aprovada em segunda votação, com base em relatório muito criticado, porém a alto custo, em termos de cargos, verbas etc. Há, ainda, longo caminho a percorrer, pois a proposta terá de ser votada em segundo turno para ir ao Senado.
Entretanto, o governo animou-se e editou medida provisória, impondo cobrança de contribuição dos servidores civis inativos da União, matéria já recusada.
Configurando um mergulho no desconhecido, a reforma da Previdência ainda vai gerar muita polêmica, inclusive com ações na Justiça, até que sua votação se complete. E continuará bloqueando o caminho das demais reformas paradas no Congresso.

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