São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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O papel do Banespa

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O Banespa voltou a sofrer ataques equivocados nesta semana em que o Senado aprovou um empréstimo para São Paulo pagar parte de sua dívida com o banco. Esses ataques repetidos estão errados e merecem uma contestação com base na boa economia.
Sabe-se que a existência de um sistema diversificado de crédito, no qual o crédito esteja disponível para pequenos e médios produtores, é necessário para o desenvolvimento.
Esse foi o papel do Banespa nos anos 40 a 80 em São Paulo. Sou filho de um gerente do banco (meu pai já morreu) e conheço como o banco funcionava nos anos 50.
Ainda criança, aprendi que o apoio que o banco dava para agricultores e pequenos industriais pelo interior do Estado não era facilmente obtido junto aos bancos comerciais privados.
O "desastre" da dívida acumulada pelo Estado junto ao banco nos últimos anos não é culpa de uma "ineficiência" da casa.
Deve-se aos juros acumulados pela política absurda de juros reais elevados, imposta ao país por alguns economistas da PUC do Rio que dirigem o Banco Central desde 92.
Em trabalho que iniciei com Jeffrey Sachs e que agora está sendo concluído junto com meus alunos de mestrado Ana Raquel de Almeida e Guilherme Montoro, mostramos que a evolução da renda "per capita" por Estados depende de variáveis como a taxa de escolaridade, base agrícola diversificada, baixa concentração da propriedade da terra e existência de crédito para os produtores.
As variáveis citadas são ignoradas por aqueles puqueanos, presos que estão à ideologia de que a privatização é remédio para tudo. Pena que não cure economistas tolos.

Álvaro Antônio Zini Júnior, 43, é professor de macroeconomia aberta na Faculdade de Economia e Administração da USP.

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