São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Aluguel se estabiliza, mas a inadimplência aumenta

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O setor que mais pressionou a inflação depois do Real -aluguel residencial- está mais estabilizado. O único contraste é a inadimplência, que cresceu neste ano.
O número de ações de despejo por falta de pagamento que dão entrada no Fórum de São Paulo comprova que os inquilinos também foram envolvidos pela onda dos atrasos de pagamento, mais visível na área de crediário.
Em abril passado, foram 4.422 ações, 74,92% a mais do que no mesmo mês de 95. O total de ações no quadrimestre chega a 16.343, contra 9.245 em igual período de 95. O aumento foi de 76,78%.
Para o total de locações residenciais em São Paulo, estimado em cerca de 700 mil, o número mensal de ações representa menos de 1%. Mas não deixa de ser um termômetro do aperto geral.
José Roberto Graiche, presidente da Aabic (associação de administradoras em São Paulo), diz que o atraso de pagamento até um mês, tradicionalmente praticado por 8% a 10% dos inquilinos, está em torno de 20%. Esse atraso não chega a motivar uma ação judicial.
Mesmo quando a ação é proposta, lembra Graiche, nem sempre acaba em despejo, pois o inquilino pode aceitar "purgar a mora", como dizem os advogados.
Para Graiche, muitos inquilinos, antes ou logo após o Real, assinaram acordos ou fizeram uma renegociação certos de que o plano não daria certo. A inflação voltaria, e os aluguéis, como antes, rapidamente perderiam valor.
Mas, como a inflação permaneceu baixa, o peso do aluguel no orçamento doméstico se manteve. A economia enfrenta um desaquecimento e muitos microempresários e autônomos passaram a faturar menos, comenta Graiche.
O advogado Márcio Bueno, diretor jurídico do Creci-SP, relaciona a inadimplência também ao fato de, no início de 95, muitos contratos terem passado pela revisional prevista na primeira MP do Real.
Outras ações caem
No caso de inquilinos que continuam podendo pagar o aluguel em dia, a situação está calma. Com maior oferta, os preços do aluguel inicial subiram abaixo da inflação e até caíram, dando algum poder de barganha a quem aluga.
Tanto assim que o número de ações ordinárias de despejo levadas ao Fórum, mais relacionadas à chamada "denúncia vazia", decresceu 40,40% de abril de 95 a abril passado (1.021 contra 1.713). No quadrimestre caiu 39,45%.
"Hoje você aluga apartamento até no mesmo andar por valor inferior ao que está pagando num outro semelhante", afirma Hubert Gebara, da Hubert Imóveis e Administração.
Em função disso, afirma ele, é possível, muitas vezes, até negociar para que não seja aplicado o reajuste anual, que, para maio (pagamento em junho), está na faixa de 11,25% (IGP) a 18,22% (INPC).
"Está difícil alugar. Muitos têm medo de tirar um inquilino conhecido do imóvel", diz Graiche.

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