São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996 |
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Haverá correção monetária nos EUA
GILSON SCHWARTZ
Este ano o debate pode voltar, mas o clima é muito mais de celebração da recuperação da produtividade americana e de reconhecimento de novas fronteiras de expansão, em especial na indústria cultural e de comunicações. Os desequilíbrios talvez até sejam vistos como desequilíbrios macroeconômicos, e não como prova de uma "guerra comercial" de todos contra todos. Indexação Uma explicação velha e ortodoxa para o desequilíbrio externo americano é a baixa poupança. Uma sociedade que cresce poupando pouco e com abertura comercial crescente transfere os ganhos de renda domésticos para o exterior. Em português, isso significa dizer que numa economia aberta que consome muito e poupa pouco o crescimento econômico leva ao déficit comercial. Se houvesse a possibilidade de compensar o excesso de consumo privado com aumento da poupança do governo, no conjunto o impacto negativo sobre as contas externas poderia ser evitado. Mas nos EUA o déficit público tem sido a regra das últimas décadas. O déficit comercial torna-se, portanto, crônico. Fenômeno que os economistas batizaram de "twin deficits" (déficits gêmeos). O déficit comercial crônico coloca os mercados financeiros em estado de alerta com relação à taxa de câmbio. A expectativa mais simples é de que o dólar se desvalorize ao longo do tempo. Assim, com importações mais caras e exportações favorecidas, o déficit comercial seria eliminado. Mas, para financiar o déficit do governo, o Tesouro americano emite títulos de dívida pública. Os juros oferecidos devem ser suficientes para compensar o risco embutido nas expectativas de desvalorização cambial. Podem, aliás, ser altos o suficiente para até valorizar o dólar. E com dólar valorizado fica mais barato importar. A economia fica mais aberta, o déficit comercial permanece e a ciranda recomeça, alimentada pelos déficits gêmeos que, a rigor, são xifópagos. Poupança A solução, cobrada sempre pelos japoneses, seria os americanos pouparem mais. Ou seja, não adianta acusar os japoneses (ou os chineses) de protecionismo. A causa do desequilíbrio não é o comércio internacional, mas o desequilíbrio macro doméstico. Estimular a poupança, entretanto, não é fácil. Curiosa é a solução apresentada na semana passada por Robert Rubin, secretário do Tesouro dos EUA. A idéia é emitir títulos públicos com correção monetária, garantindo pela indexação a proteção contra a inflação. Não se atacam os fundamentos do desequilíbrio, mas parece uma solução perfeita. E mostra que, pelo menos no Primeiro Mundo, imaginar uma desindexação total é uma idéia fora de lugar. Texto Anterior: As licitações e o falso moralismo Próximo Texto: Serviço puxa PIB neste ano, prevê estudo Índice |
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