São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Disputa envolve descoberta do elemento número 110

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 7 de novembro de 1994 um grupo de pesquisadores alemães do Laboratório GSI de Pesquisas sobre Íons Pesados, em Darmstadt, começou experiência chefiada por Sigurt Hofmann para produção do elemento químico número 110.
O 109 já era conhecido desde 1982, obtido na mesma instituição. Para atingir seu objetivo o grupo reformou totalmente o acelerador linear de íons Unilac. Esperava descobrir o novo elemento em pouco tempo, umas duas semanas, mas certamente não em dois dias, como ocorreu. O processo usado foi o chamado de fusão fria.
Com a mesma rapidez com que apareceu no detector, o 110 decaiu. Em menos de 1 milésimo de segundo, transformou-se no elemento 108 após emitir uma partícula alfa, isto é, um núcleo de hélio (2 prótons e 2 nêutrons). Seguiu-se uma cadeia de decaimentos semelhantes desses núcleos, caracterizando cabalmente a produção do 110.
Mas se ninguém contesta a descoberta do 110, dois outros grupos talvez possam ameaçar a afirmação de se tratar da primeira demonstração do novo elemento superpesado. A contestação poderá partir do Lawrence Berkeley Laboratory, Califórnia, e do Joint Institute for Nuclear Research (JINR), conjunto russo e norte-americano em Dubna. É que em ambos os centros se realizaram ou realizam pesquisas com o mesmo fim, cujos resultados ainda não foram totalmente apurados.
O LBL iniciou seus experimentos com um Super Hilac há quatro anos, mas encerrou-os certo de nada haver encontrado. Mas, no ano passado, reanalisando dados, Alfred Ghiorso, chefe da pesquisa e descobridor de nada menos que 13 elementos superpesados, verificou a possibilidade de haver produzido, naqueles experimentos, o 110, que então teria passado despercebido.
Mas os dados apresentados pelo LBL pareceram duvidosos, sem falar na interrupção, por falha eletrônica momentânea no aparelho, da cadeia de decaimentos em certos pontos. Ghiorso tem procurado contornar as deficiências com explicações que não têm convencido a maioria dos outros especialistas. Para coroar as dificuldades, o Super Hilac foi fechado, de maneira que não mais existem meios de verificar as explicações ou suposições do grupo.
A equipe de Dubna começou experiências para produzir o 110 dois meses antes do grupo alemão, porém não havia acabado de analisar seus dados quando da comunicação alemã. Ela espera encontrar em sua análise indicações que provem o aparecimento de 110 antes da data anunciada pelo GSI. Dos resultados dessa investigação depende, pois, a sorte do GSI como real descobridor do 110.
Daniel Clery ("Science", 266, 1079) lembra que os três grupos podem criar séria contenda por prioridade, conforme o desenrolar dos acontecimentos. E contendas desse gênero podem ser muito demoradas e exigem decisões por arbitragem de grandes especialistas, tomadas em nível internacional.
A disputa entre os descobridores dos elementos 101 a 106 durou vários anos e terminou com o reconhecimento do LBL como descobridor do 101 e do 106 e do LBL associado ao JNNR como descobridores dos elementos 102, 103, 104 e 105.
Nota: Acaba de ser produzido no GSI o elemento 112 em fevereiro deste ano.

Texto Anterior: Plano defende a população de Cubatão, diz pesquisadora
Próximo Texto: CRIANÇAS; BACTÉRIA; A PALAVRA; ALZHEIMER; SAÚDE; TECNOLOGIA; FILOSOFIA; FÍSICA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.