São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Gerry Adams rejeita condição sobre o IRA

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BELFAST

"Estou aborrecido com toda essa história de cessar-fogo para falar de paz. Óbvio que queremos participar das conversações, mas sem nenhuma condição envolvendo o IRA."
A frase, dita pelo presidente do partido político Sinn Fein, Gerry Adams, resume o estado de espírito que antecede as eleições para o fórum que vai discutir o processo de paz na Irlanda do Norte.
Em entrevista à Folha, concedida rapidamente entre duas reuniões do Sinn Fein anteontem, em Belfast, Adams se mostrou consciente do papel-chave que desempenha no processo. "Londres sabe que, sem nós, não há paz."
Vestindo um terno cinza-claro, camisa e gravata azuis e sapatos esportivos, Adams começa a aparentar seus 47 anos.
Mechas brancas surgem em seu cabelo penteado para trás -que, dentro do Sinn Fein, é um símbolo copiado assim como a barba de Luiz Inácio Lula da Silva é no PT.
Em 1969, ele saiu de trás do balcão do pub Duke of York, no oeste de Belfast, com meia dúzia de garrafas de cerveja vazias na mão.
Elas viraram coquetéis molotov nos primeiros dias do atual estágio da guerra civil entre católicos republicanos, protestantes e o Exército do Reino Unido.
Os primeiros, 38,4% da população em 1991, querem a unificação com a República da Irlanda.
Os segundos, maioria da população (50,6%), se dividem em dois grupos: a maioria unionista, que defende a permanência no Reino Unido, e uma minoria que não quer ser nem britânica nem irlandesa -e sim dar independência aos seis condados da Província do Ulster (como os britânicos chamam a Irlanda do Norte).
Os terceiros tentam manter a ordem e o domínio local.
Em 1994, 25 anos depois da intensificação do conflito interno e 22 após a intervenção militar britânica, o principal grupo armado da Província declarou cessar-fogo.
O IRA (Exército Republicano Irlandês), cujo braço político é o Sinn Fein, ficou até 9 de fevereiro deste ano sem explodir bombas -desde então detonou cinco, matando dois ingleses e com uma baixa acidental em seus quadros.
Pressão
"O IRA está exercendo a pressão que sabe para mostrar que Londres não avançou na negociação, apenas ficou fazendo exigências", disse Adams, que nega ter sido do grupo -embora todo o comando do Sinn Fein o tenha.
Semana passada, o premiê britânico, John Major, deu dois sinais para conquistar uma nova trégua: começou a transferência de presos do IRA de prisões inglesas para prisões norte-irlandesas e admitiu discutir a entrega das armas do grupo só após as negociações.
O objetivo é um só: garantir o Sinn Fein nas eleições que ocorrem no dia 30. Elas irão eleger 110 membros de uma assembléia que terá, então, 20 representantes selecionados para um fórum de paz que começa no dia 10 de junho.
Como participa da eleição para a assembléia, "Big Gerry", apelido de Adams no partido, lançou sua campanha semana passada.
"Votáil do Shíochán" ("Vote pela Paz", em irlandês), dizia um cartaz atrás da mesa do bar Northern Squire, onde Adams falou com a Folha.

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