São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
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Ação envolveu 29 policiais e 7 carros

Relatório do Dops conta detalhes

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Um relatório preparado pelo delegado Ivair Freitas Garcia, assessor da diretoria do Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), conta em detalhes como foi organizada a operação em que Carlos Marighella foi morto.
O documento, datado de 9 de novembro de 1969 -cinco dias depois da morte do líder da Ação Libertadora Nacional (ALN)-, especifica que sete carros e 29 policiais participaram da ação na alameda Casa Branca (nos Jardins, São Paulo).
"Elaborou-se o esquema, com sete equipes para o local do encontro, enquanto as demais permaneceriam guarnecendo outros lugares, inclusive o convento dos dominicanos", afirma o relatório.
A seguir, são listados os 29 policiais. O texto é tão minucioso que especifica como os policiais estavam distribuídos nos sete carros ao deixar a sede do Dops/SP.
Outros sete policiais que mantiveram o cerco ao convento dos dominicanos, em Perdizes, e a um apartamento na praça Júlio Mesquita, onde moravam outros frades, também são citados.
Cruzamentos fechados
Há o detalhamento da função de cada equipe. Três carros tinham a função específica de fechar cruzamentos da alameda Casa Branca: um na esquina com a alameda Lorena, outro na esquina da rua Tatuí e um terceiro na esquina da rua José Maria Lisboa.
Os outros quatro carros ficaram na alameda Casa Branca. Num deles, um Volks azul, estavam os frades Yves de Lesbaupin e Fernando Brito. Do outro lado da rua, num Chevrolet ano 1955, estava o delegado Sérgio Paranhos Fleury, responsável pela ação.
"Pela quantidade de carros e de pessoas, com a especificação de quem deveria ficar em qual local, fica claro que a rua, que era pública, ficou fechada para uso da polícia. A intenção não era prendê-lo, mas eliminá-lo", disse à Folha Clara Charf, 70, viúva de Marighella.
O relatório informa que às 19h45 todas as equipes já estavam colocadas. Marighella teria surgido por volta das 20h, a pé.
Ele teria atravessado a rua e entrado no banco traseiro do Volks azul onde estavam os dois frades.
Fleury teria então dado voz de prisão a Marighella, que teria em seguida feito menção de mexer na pasta onde supostamente guardava sua arma e, de acordo com o relatório, granadas.
Nesse momento Marighella teria sido atingido, e o tiroteio "entre policiais e elementos da proteção" do guerrilheiro teria começado.
O relatório do delegado Ivair Freitas Garcia termina com um pedido de promoção para os 44 policiais envolvidos na ação -além dos 36 que estavam na rua na noite de 4 de novembro, outros 8 trabalharam nos interrogatórios.

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