São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ensaios trazem gênese do feminismo

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Quando Gloria Steinem resolveu ter uma vida independente, no final dos anos 50, a palavra feminismo apenas começava a ser usada na sociedade americana. E, quase sempre, como um tipo de ofensa.
"The Education of a Woman: The Life and Times of Gloria Steinem", de Carolyn Heilbrun, biografia da escritora e jornalista lançada no mês passado, recoloca a primeira geração de feministas americanas na ordem do dia, mais uma vez reivindicando seus direitos. O principal deles, a própria importância histórica.
Antes de Steinem, Shere Hite, Betty Friedan e Kate Millett, as combatentes de primeira hora do movimento, toda jovem americana tinha por ambição um marido, lindos vestidos, e uma cozinha de alta tecnologia.
Esse mundo de realizações pelo casamento terminou ruindo em manifestações de descontentamento contra esse aparente conforto.
Por toda a América os movimentos revolucionários dos anos 60 ganhavam a cor de mais uma "minoria", em barulhentas passeatas e curiosos artigos para os jornais, no gênero "O que um Homem Faria se Menstruasse".
Hoje, principalmente Steinem, 63, e Hite, 54, (que lançou também sua versão dos fatos, a autobiografia "Hite Report on Herself"), são tidas como piada. Um estorvo.
Lembradas por terem queimado sutiãs em praça pública, terminaram destronadas pelo pós-feministas- Camille Paglia, Naomi Wolf e Sallie Tisdale a frente- originárias do meio acadêmico, repletas de repertório e discursos culturais.
E é exatamente essa distinção que vem acentuado, nos últimos meses, uma radicalização entre os dois grupos. Paglia e Sallie são bissexuais assumidas, repletas de estudos semiológicos sobre a sociedade. Steinem e Hite foram coelhinhas da revista "Playboy" e passaram parte da vida trabalhando como garçonetes.
Enquanto o discurso de uma é sexualmente violento, o de outra era festivamente panfletário. "Nós já precisamos um dia de Gloria Steinem, hoje temos apenas que aturá-la", teria dito Paglia em uma de suas inúmeras entrevistas.
A resposta de Steinem veio na forma não de um ataque pessoal, mas em defesa do que acreditava ser o verdadeiro feminismo: "Paglia chamar a si mesma de feminista é a mesma coisa que um nazista dizer que não é anti-semita", disse ao "The Feminist Chronicles".
Hite, auto-exilada na Alemanha, se lamentava para todo jornalista à mão que seus famosos relatórios sobre o comportamento sexual dos americanos sempre foi considerado "pseudo-científico". Um discurso repetido em sua autobiografia: a fato de sempre ter sido julgada como uma grande fraude. O feminismo parece iniciar agora sua autofagia.

Livro: The Education of a Woman: The Life and Times of Gloria Steinem
Autora: Carolyn Heilbrun
Quanto: US$ 30

Livro: The Hite Report on Herself
Quanto: US$ 39,80
Onde: encomendas na Livraria Cultura (av. Paulista, 203; tel. 011/285-4033).

Texto Anterior: Um vídeo muito doido expõe o Carandiru
Próximo Texto: Steinem não odiava os homens
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.