São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
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Fernan(Dinho)

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Abateu-se sobre o tucanato uma fatalidade semelhante à que vitimou o grupo Mamonas Assassinas.
O Plano Real, cantado em prosa e em verso, é um estrepitoso sucesso de público. Fernando Henrique Cardoso caiu nas graças da patuléia. Tornou-se o Dinho da política.
Mas, para desconsolo geral, o presidente de 34 milhões de votos morreu precocemente, antes que pudesse submeter ao julgamento do mercado uma segunda obra.
A Brasília da era tucana transforma-se rapidamente em usina de antiguidades. A própria estabilidade monetária, disco de ouro do presidente Fernando Henrique, é um feito que pertence à biografia do ministro da Fazenda Fernando Henrique.
De resto, o dia-a-dia da capital federal resume-se a um esforço para aprovar reformas da era Collor com métodos da fase Sarney.
A última grande novidade política não foi urdida nos corredores do Congresso. Tampouco foi tricotada nos gabinetes do Planalto, defunto insepulto. A notícia mais fresca da temporada saltou das pranchetas dos pesquisadores do Datafolha, enviados às ruas de São Paulo, na semana passada, para saber o que o brasileiro anda pensando de seu presidente.
As pessoas estão de saco cheio, eis o recado vindo do asfalto. Subitamente, descobre-se que o Fernando Henrique que aparece todos os dias na televisão é falso como um escocês do Paraguai.
O presidente que chafurda na fisiologia não é o Fernando Henrique que jurou revolucionar os usos e costumes da política. O presidente que se curva à pressão de ruralistas caloteiros não é o Fernando Henrique que prometeu, em discurso solene de posse, dedicação ao social.
Um único e importante detalhe distingue Fernando Henrique dos Mamonas Assassinas. Ao contrário dos garotos, que viram o sucesso deslizar pelas encostas da serra da Cantareira, o presidente, se quiser, pode ressuscitar. Há tempo. O que falta é disposição. Uma disposição de açougueiro, não de sociólogo.

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