São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Lobby incluiu PT e líderes de empresários

GUSTAVO PATÚ
GABRIELA WOLTHERS

GUSTAVO PATÚ; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Retirada de quatro artigos de medida provisória não foi articulada apenas pela bancada ruralista

O lobby pela derrubada de quatro artigos da MP (medida provisória) que capitaliza o Banco do Brasil abrangeu desde o PT até lideranças empresariais como a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Em negociação pela reforma da Previdência, o governo acabou derrubando os artigos -que tratavam da cobrança de juros e dívidas bancárias- na quinta-feira.
A bancada ruralista, formada por parlamentares ligados ao setor agropecuário -única que expôs publicamente a barganha de trocar Previdência pela MP-, acabou levando sozinha a fama pela pressão.
O lobby contra a MP começou no escritório de advocacia Palhares Advogados e Associados.
Trata-se de uma empresa que reúne cerca de 20 advogados, com representações em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre, cuja especialidade é entrar com ações contra o sistema financeiro.
Frente ampla
Dizendo-se petista, o advogado Joaquim Ernesto Palhares procurou a Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), coordenada por Oded Grajew, que, em 94, coordenou uma frente empresarial de apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
A Cives encaminhou mensagens a entidades de classe. Tanto a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) como a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) receberam faxes.
O assunto chegou ao Congresso por meio de uma correspondência da Cives à liderança do PT, que decidiu apresentar emendas supressivas à MP. "Como sou economista, coube a mim apresentar as emendas, mas segui uma orientação da bancada", disse o deputado José Machado (SP).
Conselho
Palhares, então, entrou em contato com seu amigo e conterrâneo Pedro Simon, senador pelo PMDB-RS, que também acabou apresentando emendas à MP.
Mas a maior contribuição de Simon foi, segundo Palhares, ter-lhe dado o conselho para que se agarrasse à bancada ruralista.
Foi por intermédio da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) que Palhares conseguiu uma reunião com os ruralistas -que resultou no apoio dos 172 deputados da bancada à causa.
Em outra frente, a Fiesp firmou posição contra os quatro artigos, em reunião realizada em 3 de maio com a presença do senador Fernando Bezerra, presidente da CNI.
Já a Confederação das Associações Comerciais do Brasil, presidida por Afif Domingos, enviou fax aos parlamentares, dizendo que os artigos trariam "efeitos desastrosos para o setor produtivo".

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