São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relatório reprova diálogo com torre

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Um diálogo fora dos padrões aeronáuticos pode ter sido a origem do acidente aéreo que, em março passado, matou os cinco integrantes da banda Mamonas Assassinas, em São Paulo.
A conversa, mantida minutos antes do acidente entre o piloto Jorge Germano Martins e o controlador de vôo da torre do aeroporto de Guarulhos (SP), não obedeceu à "fraseologia padrão" determinada pela Aeronáutica.
No relatório final sobre as causas do acidente, a comissão de investigação recomenda que pilotos e controladores se mantenham atentos às normas de comunicações.
No caso do acidente que vitimou os músicos, o controlador falou ao piloto que se aproximava da pista: "Prossiga setor sul". Em resposta, o piloto disse: "Afirmativo. Setor norte".
'Achismo'
"Ninguém usou a fraseologia padrão. Nem o controlador nem o piloto. Isto gerou mau entendimento. Houve uma série de 'achismos' a partir desse diálogo absurdo", afirmou João Carlos Pessoa, representante do Sindicato Nacional dos Aeronautas na comissão.
Segundo o relatório da comissão, o controlador de vôo achou que o piloto estava desobedecendo a recomendação da torre de modo premeditado, por julgar mais conveniente seguir pelo setor norte (curva à esquerda).
O diretor de relações internacionais do sindicato, Hélio Rúbem Castro Pinto, disse que o piloto deveria ter seguido a recomendação internacional conhecida por "read back" (ler de novo, no jargão aeronáutico).
"O procedimento correto é o piloto repetir a orientação da torre, a fim de confirmar essa orientação", disse ele.
Castro Pinto disse que desobediências à "fraseologia padrão" têm ocorrido em todo o mundo.
"O uso da fraseologia não está sendo cobrado, treinado e fiscalizado. Por isso estão ocorrendo falhas de comunicação entre pilotos e controladores", disse Castro Pinto.
Punições
Com base no relatório final da comissão de investigação, o Ministério da Aeronáutica poderá punir os que forem apontados como responsáveis pelo acidente.
A empresa de aviação Madri Táxi Aéreo -dona do Lear Jet acidentado- poderá até ser proibida de continuar operando.
O controlador que dialogou com o piloto do avião poderá ser demitido, opção pouco provável, segundo integrantes da comissão.

Texto Anterior: Fundação tenta reabrir museu
Próximo Texto: Ministério define hoje destino das sementes de maconha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.