São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Hospital adota teste que revela HIV antes

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital Sírio-Libanês de São Paulo passou a adotar desde ontem um novo teste anti-HIV na triagem do sangue coletado. Trata-se do Antígeno P-24, um exame capaz de aumentar a margem de segurança para os pacientes que recebem sangue.
O Hospital Albert Einstein adotará o teste na próxima semana. Nos EUA, o exame será obrigatório em todos os bancos de sangue em junho. No Brasil, ele ainda não é exigido por lei.
O novo exame detecta o antígeno P-24, uma proteína presente no núcleo do vírus HIV. Os testes hoje obrigatórios -o Elisa e o Western Blot- indicam a presença do anticorpo do HIV no sangue.
A vantagem está na redução da chamada "janela imunológica", período médio de 22 dias que o organismo demora para criar anticorpos, revelando o contágio.
O novo teste indicará a presença da proteína do HIV 10 ou 15 dias depois que a pessoa foi infectada. "Ainda não vamos zerar a 'janela imunológica', mas a margem de segurança será aumentada", diz Silvano Wendel Neto, diretor do Instituto de Hemoterapia do Sírio-Libanês.
Risco de contaminação
Segundo ele, os riscos teóricos de uma contaminação em função da "janela imunológica" cairão de um caso por 300 mil/600 mil doações para um caso por 500 mil/1 milhão de doações.
Um estudo de dois anos nos EUA mostrou que três casos de contaminação teriam sido evitados com o novo teste. Amadeo Saez-Alquezar, superintendente de sorologia da Fundação Pró-Sangue Hemocentro, disse que a Fundação Nacional de Saúde iniciará um estudo com cerca de 100 mil doadores para avaliar o custo/benefício da obrigatoriedade do novo teste.
Os EUA estão gastando cerca de US$ 120 milhões para prevenir, teoricamente, sete casos de transmissão com o uso do novo teste.
"Um único caso evitado já compensa a aplicação do teste", diz Nelson Hamerschlak, do banco de sangue do Albert Einstein.
Os kits para os testes do Antígeno P-24 só foram aprovados no mês passado pela FDA, órgão do governo americano que controla remédios e alimentos. Os laboratórios Ortho e Abbott já tiveram seus kits aprovados.
Segundo Wendel, do Sírio-Libanês, a adoção do novo teste deve aumentar o custo de uma transfusão em até 10%, passando de cerca de R$ 350,00 para R$ 375,00.
Segundo os médicos, os riscos da "janela imunológica" na triagem do sangue serão reduzidos ainda mais quando for possível a adoção do PCR, uma metodologia que detecta o vírus no interior da célula. Esse teste aumentaria em até 50% os custos de uma transfusão.

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