São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Planos e médicos se culpam por reajuste

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As empresas de planos de saúde e a AMB (Associação Médica Brasileira) estão travando uma guerra de números na tentativa de provar para o governo que não são responsáveis pelos aumentos nas mensalidades além da alta da inflação.
Os números que a Abramge (Associação Brasileira de Empresas de Medicina de Grupo) apresenta hoje ao governo devem mostrar que cerca de 50% dos custos dessas empresas se referem a honorários médicos.
Amanhã será a vez da AMB, que tentará provar que os honorários médicos respondem por apenas 21,29% dos custos das empresas de saúde privada.
O governo, por sua vez, acionou a Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento) para coletar dados sobre os percentuais de reajustes nas mensalidades e sobre a composição de custos das empresas.
Ontem, a SDE (Secretaria de Direito Econômico) recomendou aos Procons de todos o país que multem as empresas que aumentaram as mensalidades antes de um ano do último reajuste -o que é proibido pela lei que criou o Plano Real.
Honorários
A tabela de honorários foi apontada pela Abramge como a principal responsável pelos altos índices de aumentos nas mensalidades repassados aos consumidores.
Segundo a SDE, o aumento médio das mensalidades é de 40%, frente a uma inflação de cerca de 20% no período. A Abramge argumenta que os custos dos planos de saúde subiram entre 26% e 32%.
"Os aumentos de custos variam conforme o tipo de atendimento e a região de atuação das empresas. Se as mensalidades subirem mais do que 32%, as empresas terão que explicar-se para não sofrerem processo por abuso do poder econômico", diz Arlindo de Almeida, presidente da Abramge.
A Abrange argumenta que, até o mês passado, a tabela da AMB recomendava o pagamento de R$ 20 por consulta.
Em maio, o valor da consulta passou para R$ 39,00. Se fosse aceito pelas empresas, os aumentos das mensalidades dos planos seriam ainda maiores, afirma Almeida.
"É claro que não vamos pagar esses aumentos pretendidos pela classe médica", afirma o presidente da Abramge.
Custos
Os médicos, por sua vez, dizem que seus honorários representam apenas 21,59% dos custos da assistência médica privada -o que, por si só, não justificaria aumentos de até 40% nas mensalidades dos planos.
"É falso dizer que somos responsáveis indiretos pelos aumentos", diz o presidente da AMB, Antônio Nassif.
"Os aumentos dos honorários não subiram conforme nossa tabela referencial, pois estão sendo negociados regionalmente entre os médicos e as empresas e cada uma tem um percentual próprio", argumenta Nassif.
Segundo ele, as empresas de planos de saúde quase não usam a tabela. "A maioria dos 264 associados da Abramge opera com hospital próprio e contrata médicos com carteira assinada", afirmou Nassif.
Segundo ele, a AMB elevou a tabela porque, pelos valores anteriores, sobraria para os médicos apenas R$ 1,56, depois de descontados custos e impostos.

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