São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Planos e médicos se culpam por reajuste

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As empresas de planos de saúde e a AMB (Associação Médica Brasileira) estão travando uma guerra de números na tentativa de provar ao governo que não são responsáveis pelos aumentos nas mensalidades além da inflação.
Os números que a Abramge (Associação Brasileira de Empresas de Medicina de Grupo) apresenta hoje ao governo devem mostrar que 40% a 50% dos custos dessas empresas se referem aos gastos com honorários médicos, que subiram até 95% (caso das consultas).
Amanhã será a vez da AMB, que tentará provar que os honorários médicos respondem por apenas 21,59% dos custos das empresas de saúde privada.
O governo, por sua vez, acionou a Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento) para coletar dados sobre os percentuais de reajustes nas mensalidades e sobre a composição de custos das empresas.
Ontem, a SDE (Secretaria de Direito Econômico) recomendou aos Procons de todo o país que multem as empresas que aumentaram as mensalidades antes de um ano do último reajuste -o que é proibido pela lei que criou o Plano Real.
Honorários
A tabela de honorários foi apontada pela Abramge como a principal responsável pelos altos índices de aumentos nas mensalidades repassados aos consumidores.
Segundo a SDE, o aumento médio das mensalidades foi de 40%, frente a uma inflação de cerca de 20% no período. A Abramge argumenta que os custos dos planos de saúde subiram entre 26% e 32%.
"Os aumentos de custos variam conforme o tipo de atendimento e a região de atuação das empresas. Se as mensalidades subirem mais do que 32%, as empresas terão de se explicar para não sofrerem processo por abuso do poder econômico", diz Arlindo de Almeida, presidente da Abramge.
A Abrange argumenta que, até o mês passado, a tabela da AMB recomendava o pagamento de R$ 20 por consulta. Em maio, o valor da consulta passou para R$ 39,00 -alta de 95%, rejeitada pelas empresas de saúde. Se esse acréscimo fosse aceito pelas empresas, os aumentos das mensalidades dos planos seriam ainda maiores, afirma Almeida.
"Não vamos pagar os aumentos pretendidos pela classe médica", afirma o presidente da Abramge.
Custos
Os médicos, por sua vez, dizem que seus honorários representam apenas 21,59% dos custos da assistência médica privada -o que, por si só, não justificaria aumentos de até 40% nas mensalidades dos planos.
"É falso dizer que somos responsáveis indiretos pelos aumentos", diz o presidente da AMB, Antônio Nunes Nassif.
"Os aumentos dos honorários não subiram conforme nossa tabela referencial, pois estão sendo negociados regionalmente entre os médicos e as empresas. Cada uma tem um percentual próprio", argumenta Nassif.
Segundo ele, as empresas de planos de saúde quase não usam a tabela. "A maioria dos 264 associados da Abramge opera com hospital próprio e contrata médicos com carteira assinada", afirmou Nassif.
A AMB, segundo seu presidente, elevou a tabela porque os médicos "estão infelizes e mal pagos", o que prejudica o atendimento à clientela dos convênios.

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