São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Biblioteca de Florestan vai para a Ufscar

DA REPORTAGEM LOCAL

A biblioteca do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995) foi comprada pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) por US$ 160 mil.
Os cerca de 25 mil volumes e as gavetas de documentos do maior cientista social uspiano não vão ficar na escola em que Florestan formou sociólogos como o presidente Fernando Henrique Cardoso: a USP não oferecia condições para manter o acervo unificado.
A universidade corre o risco de perder outra grande biblioteca, a do historiador carioca José Honório Rodrigues (leia texto abaixo).
Florestan escreveu mais de 50 livros sobre sociologia indígena e do racismo, política e teoria das ciências sociais. Foi deputado federal pelo PT e colunista da Folha.
Documentos
Não há preciosidades bibliográficas entre os livros de Florestan. A biblioteca é importante por ser grande, bastante completa e especializada. O que há de especial no acervo são as dezenas de gavetas de documentos do pesquisador.
O próprio Florestan fazia as fichas catalográficas de seus livros, acompanhadas de comentários de leitura. Entre os papéis existem ainda milhares de manuscritos não identificados, relatórios de pesquisas antigas e até os contracheques do professor da USP.
A Folha visitou o apartamento de 160 metros quadrados utilizado por Florestan apenas para guardar os livros e trabalhar. Sob um pôster do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara, um armário guarda as fichas de estudo.
Entre notas de leitura de livros de Guevara e de Fidel Castro, se vê um recorte de jornal com o quadro de medalhas dos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico, em 1979. Florestan fez as contas para ver que Cuba tinha mais medalhas de ouro que todos os demais países juntos, com exceção dos EUA.
Na gaveta ao lado estão socados relatórios de pesquisa dos anos 50, um deles do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, sobre imprensa negra em São Paulo.

Inaguração
Os livros estarão à disposição do público a partir de agosto, segundo a Ufscar. Os móveis serão dispostos da mesma maneira que Florestan os deixou no apartamento próximo à avenida Paulista.
Segundo Heloísa Fernandes, socióloga da USP como o pai, Florestan, a Ufscar se comprometeu a manter o acervo unificado e aberto ao público e por isso foi escolhida.
Fernandes diz que a USP tem como norma quase geral pulverizar os acervos. Outra grande universidade, a Unicamp, teria oferecido uma proposta financeira pequena.
Segundo a Ufscar, a avaliação do acervo teria sido feita com base no preço de venda de coleções do mesmo tamanho.

Texto Anterior: Os melhores foram exibidos por último
Próximo Texto: Viúva pede livros de volta à USP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.