São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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TREM LENTO

As esperanças de redução do desemprego e recuperação do crescimento econômico mundial receberam ontem mais um golpe. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) reavaliou para baixo suas projeções de crescimento econômico global, que aliás já não eram muito animadoras.
No final do ano passado, o organismo imaginava um crescimento de 2,6% em 1996. Acaba de rebaixar a projeção para 2,1%. Continua projetando uma retomada em 1997, mas dos 2,8% que estimava em dezembro passou agora a 2,5%.
Dois fatores acrescentam decepção à notícia desanimadora. O primeiro é o peso da estagnação alemã, cuja economia crescerá pífios 0,5% em 1996. Isso ajuda a piorar os índices de desemprego, que na Europa continuam acima da média da OCDE.
O segundo fator preocupante é o papel decisivo, nas análises da economia global, da economia japonesa para uma eventual retomada do crescimento. O problema é que o próprio governo japonês está iniciando uma nova fase de política econômica em que a prioridade é a reversão do déficit público. Fala-se também, diante das evidências de retomada do crescimento no Japão, da eventualidade do seu banco central elevar as taxas de juros ainda em 1996. Ou seja, esperar que o Japão seja um dínamo global é por ora uma ilusão desautorizada por sua política econômica.
Não espanta, portanto, que sindicalistas de 27 países tenham lançado uma advertência contra o desemprego, definindo o problema como uma verdadeira "bomba-relógio social".
Paradoxalmente, nesse ambiente as expectativas de um desempenho melhor da economia mundial nos próximos anos voltam a depender da economia americana. Afinal, há poucos anos havia quem dissesse que os EUA estavam em decadência irreversível e que o Japão ou a Europa viriam a ser as novas locomotivas.
As projeções da OCDE mostram que o trem continua andando devagar. E não há condições, no curto ou médio prazo, de mudar a locomotiva ou o destino da composição.

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