São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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FHC e "eles"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Previsível ao extremo a reação dos "fernandohenriquistas" a respeito da pesquisa do Datafolha que mostra forte declínio do prestígio presidencial.
Tão previsível quanto tola. O importante na pesquisa é menos a queda, eventualmente conjuntural, e mais o desenho de mais longo prazo. Este evidencia que, depois da primeira queda forte, logo no início da gestão, FHC jamais conseguiu reerguer-se aos olhos do público.
A avaliação, sejamos claros, é a de que FHC faz um governo medíocre, quer se dê a essa palavra uma conotação pejorativa ou a de "vulgar, comum, mediano", como está no Aurélio.
Não é a presente conjuntura (o efeito do massacre do Pará, o desemprego, o sufoco econômico de muitos setores) que causou tal avaliação. Apenas aprofundou-a. Ela vem de antes, a rigor desde o início do governo.
Não poderia, convenhamos, ser diferente. FHC escolheu para aliados políticos e setores dos quais a sociedade se fartou -e com sólidas razões.
São os ruralistas, os banqueiros, os neocoronéis -para resumir, exatamente o conjunto de forças que produziu a mais grave crise da história republicana, conforme o candidato FHC escreveu no seu primeiro panfleto de campanha.
Imaginar que se possa reverter uma crise dessas proporções aliando-se aos que a construíram, direta ou indiretamente, é apostar no inviável.
É claro que uma parcela substancial da população talvez não tenha capacidade analítica para elaborar esse tipo de raciocínio.
Mas a grande maioria continua dotada de intuição. Sente quem está de um lado e quem está do outro e não confia, pelas evidências históricas, em quem sempre esteve do lado de lá.
Intui perfeitamente que um difuso "eles" jogou o país no buraco. E que o presidente ficou do lado "deles".

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