São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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A volta do polvo

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Ao que tudo indica, hoje ocorre mesmo o leilão de privatização da Light, que assim retorna definitivamente à iniciativa privada, quase duas décadas depois de ter sido estatizada, em janeiro de 79.
Aliás, estatizada é apenas um eufemismo para designar uma das mais suspeitas operações ocorridas durante o regime militar.
Até hoje não dá para acreditar que o negócio tenha sido realizado nos moldes em que ocorreu.
O governo, então sob a tutela do general Ernesto Geisel, decidiu tornar a empresa de eletricidade estatal e para isso desembolsou quase US$ 400 milhões.
Até aí, nada de tão excepcional assim. Mas ocorre que a Light era concessionária do governo, estabeleceu-se aqui na virada do século e poderia explorar os serviços de geração e distribuição de eletricidade por 90 anos.
Ou seja, o governo pagou quase meio bilhão de dólares por um patrimônio que teria de graça dez anos depois.
Uma das justificativas que foram dadas à época alegava que o governo agia em nome do bem público, que os anos que restavam de concessão seriam suficientes para que o patrimônio fosse dilapidado e o governo, ao fim do prazo, recebesse uma empresa sucateada.
Portanto, um regime militar, forte, dominador, que interferia em tudo e a todos dava ordens, não foi capaz de zelar pela concessão do bem público. E pagou muito pelo que teria de graça.
No mínimo, no mínimo, um mau negócio.
Mas isso é história, e a história muda hoje novamente com a volta da Light à iniciativa privada, quase 107 anos depois de o grupo canadense -o "polvo canadense", como diziam os desafetos dos "trustes" estrangeiros- ter espalhado a luz elétrica e os bondes pelo país.

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