São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Economistas atacam política do governo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Não houve sequer uma manifestação de apoio à política econômica do governo FHC durante os dias do seminário que comemorou os 50 anos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
O tema do encontro acadêmico, organizado pelo professor Álvaro Antonio Zini Júnior, foi "Globalização: o que é e suas implicações".
Aqui não houve unanimidade, mas o tom predominante foi bastante crítico, especialmente quanto aos efeitos da globalização para os países em desenvolvimento.
E como o Plano Real, entre outros fatores, se apóia na abertura, ou internacionalização, da economia, o quadro se fechou.
Política fiscal
A crítica básica é a seguinte: falta ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso uma política fiscal apertada, isto é, o controle mais vigoroso das contas públicas.
Isso deveria ser feito com mais privatizações e mais corte de gastos.
Não havendo isso, o governo, para manter a inflação no chão, precisa combinar dois fatores: juros altos com valorização do real em relação ao dólar.
Juros altos
Só que os juros altos atrapalham a atividade das empresas privadas e aumentam as despesas do governo, que é o maior devedor.
E o real valorizado reduz a competitividade das companhias brasileiras, especialmente das exportadoras.
Com isso, a inflação fica no chão, mas o país não cresce. E sobretudo, fica vulnerável a qualquer crise externa, como anotou o economista argentino Roberto Frenkel.
Armadilha
Os capitais internacionais são "sensíveis", comentou o a economista argentino. A qualquer problema, podem deixar de ir para países em desenvolvimento.
E o Brasil, como a Argentina e o México, depende da entrada maciça de dólares para conseguir fechar as suas contas.
Em resumo, avaliam, o Plano Real foi apanhado numa armadilha. Se o governo reduz as taxas de juros e libera o crédito, o país volta a crescer.
Mas entra em crise externa, pois aumentam as importações, diminuem as exportações e se reduzem as entradas de dólares.
Se, de outro lado, segura a economia como está, não cresce e gera desequilíbrios fortes tanto no setor privado quanto no público.
É uma opinião partilhada por economistas de peso, como o norte-americano Jeffrey Sachs, ou os brasileiros Afonso Celso Pastore e o deputado federal Antonio Delfim Netto (PPB-SP), que participaram dos debates na USP.

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