São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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ESTRANHO MILAGRE

Passados seis meses de uma forte crise de credibilidade que, por todos os lados, rondou a implementação do Sivam, o governo federal obteve afinal a autorização do Senado para contrair empréstimos externos destinados ao financiamento do sistema -orçado em US$ 1,4 bilhão.
Para um projeto que chegou a ser considerado como "morto" pelo presidente da comissão especial do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que apurava suspeitas de irregularidades em sua implementação, tem-se a impressão de que a polêmica em torno do Sivam acabou tendo um desenlace no mínimo estranho: o próprio Senado encarregou-se de ressuscitar o que até então parecia ser um defunto.
À primeira vista, a fogueira na qual aquele controvertido sistema seria cedo ou tarde consumido não passou de um "fogo de palha".
Das denúncias envolvendo o então chefe de cerimonial do Palácio do Planalto à constatação de fraudes previdenciárias cometidas pela empresa que gerenciaria o projeto, passando pelo constante e severo questionamento dos custos implicados em sua execução, tudo levava a crer que o Sivam pelo menos ainda seria submetido a uma discussão mais cuidadosa, tendo como interlocutores o próprio governo, o Legislativo e a comunidade científica nacional. O que se viu, porém, foi apenas a obstinação do Executivo em viabilizar o projeto o mais rapidamente possível.
Como se não bastassem esses eventos nebulosos, em instante algum o governo ofereceu à sociedade uma clara justificativa para que o Sivam fosse tratado como uma real prioridade de gestão. A notória timidez das ações federais nas áreas sociais, por exemplo, contrasta hoje, inequivocamente, com a suposta necessidade de um sofisticado sistema de radares e satélites para vigiar os espaços terrestre e aéreo da Amazônia.
O "milagre", portanto, estranhamente consumou-se.

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