São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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PFL do B

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - "O Congresso precisa dar uma virada, tem de enxergar que a sociedade mudou. Não se pode mais aceitar barganhas políticas de última hora."
A frase não contém raciocínio original. Na boca de qualquer um, soaria banal, repetitiva. O inusitado está justo no nome de quem a pronunciou: o deputado Inocêncio Oliveira (PE).
Sim, Inocêncio, líder do PFL, um partido que, a despeito dos esforços que empreende para mudar sua imagem, divide o pódio da fisiologia com PMDB, PTB, PPB e que tais.
Ouça-se outro raciocínio que pinga dos lábios de Inocêncio: "Precisamos superar essa imagem de que tudo no Congresso é negócio, é interesse corporativo ou pessoal. Bancada ruralista, bancada mineira, bancada do Nordeste...É preciso pensar mais em termos de Brasil e esquecer todo o resto".
Há mais e melhor: "O Brasil mudou, queiram ou não os parlamentares. Alguns poderes, o Congresso inclusive, precisam se conscientizar de que a mudança foi mais profunda do que se imagina. Para governar o país hoje não basta o apoio do Congresso e do Judiciário. É preciso de uma coisa chamada opinião pública, é preciso ter o apoio da sociedade".
Conceda-se a Inocêncio o espaço de mais uma frase: "O Congresso não pode mais ser moroso em suas decisões. O Legislativo precisa ser uma casa indutora do processo de desenvolvimento do país. Hoje, quando resolvemos os problemas, eles já estão ultrapassados pela realidade. Veja o caso da regulamentação do sistema financeiro, que vem sendo discutido há quatro anos, sem qualquer decisão".
As palavras de Inocêncio podem ter dois destinos. Ou sinalizam uma "virada", como diz, ou simplesmente serão levadas de roldão pelo mercado de trocas que conduz à ruína a democracia brasileira, baseada no sistema representativo. Fique-se, por ora, com a segunda hipótese.

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