São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Cobrar de quem?

VALDO CRUZ

Brasília - "Nos achamos no direito." Essa é a resposta do presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fernando Bezerra, ao ser questionado se os empresários vão cobrar votos dos políticos que financiaram.
Bezerra, senador peemedebista, diz que os empresários até já escolheram 125 projetos "que terão as votações no Congresso acompanhadas de perto pela CNI".
A decisão foi anunciada pelo senador depois da derrota do governo na reforma da Previdência. O empresário classificou a atuação dos deputados-rebeldes de "lamentável, uma afronta".
Algo está errado nessa história. Uma análise feita pela Folha nas listas de votação mostra que os deputados-empresários foram maioria entre os infiéis -aqueles que resolveram votar contra o governo.
Só para exemplificar, dos 61 dissidentes que acabaram com o limite de idade para aposentadoria de servidores, mais da metade é de empresário dublê de parlamentar.
A impressão que fica é que os 3.000 empresários que vieram a Brasília reclamar do Congresso estavam blefando. Afinal, os seus colegas no Legislativo votaram exatamente na contramão do que foi pedido no encontro realizado na capital.
Ou então os negócios dos empresários-deputados estão indo "muito bem, obrigado", suportando tranquilamente os juros altos.
O que acontece, na verdade, é que dentro do Congresso a maior parte dos empresários está mais preocupada em defender seus interesses políticos-eleitorais.
Um carguinho aqui, outra verbinha ali.
As dificuldades de suas empresas... Essas são responsabilidades do governo. Ele que resolva e ponto final.
Esquecem que, ao manter privilégios que arrombam o caixa do Tesouro, estão contribuindo indiretamente para aumentar as dificuldades de seus negócios.

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