São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Cassinos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Temos progredido, nos últimos anos, na compreensão das exigências éticas. Estão, sem dúvida, presentes em nossa consciência as convicções sobre a dignidade da pessoa humana e sobre os direitos que daí decorrem.
Surpreende-nos, portanto, a insistência de alguns congressistas em apresentar ao país os pseudobenefícios ligados à abertura de cassinos.
Os projetos de lei autorizando o funcionamento de cassinos voltam a ser propostos no Congresso. É lamentável e inadmissível. Foi aprovada no dia 22 de maio na Constituição Especial da Câmara o substitutivo que abre as portas para a legalização do jogo do bicho e dos cassinos.
O projeto aguarda pronunciamento do Senado e poderá ainda ser submetido ao plenário da Câmara.
A quem aproveita a abertura de casas de jogo? Àqueles que as exploram em detrimento da sociedade. Entende-se, por isso, a pressão dos lobbies de prefeitos e empresários nas cidades de turismo e balneários, imaginando os lucros que poderiam alcançar com os cassinos. Anunciam, como sempre, que haverá novos empregos e dinamização da economia local.
É preciso ter mais objetividade nessas asserções. Há muita ilusão nesses projetos de lei. Encobrem, no fundo, a verdadeira intenção que é a de beneficiar os grupos proprietários das casas de jogo.
Há algo indiscutível. São os graves detrimentos de ordem moral.
1) Em vez de trabalho honesto e perseverante, colocam-se a sorte e o ganho fácil como ideal no horizonte axiológico. Basta, aliás, perceber a multiplicação das loterias e jogos de azar na expectativa de enriquecimento rápido.
2) Absorvem-se no jogo os recursos necessários a exigências básicas, criando uma dependência que escraviza as pessoas no afã de ganhar na próxima vez.
3) Rompe-se a harmonia familiar por causa da vida noturna e desregrada e pela inquietação que se abate sobre o lar, diante da atração incoercível que domina, aos poucos, os jogadores, com perigo de arruinar, de repente, o patrimônio familiar.
4) Quem não conhece casos de desespero dos que perdem tudo nas apostas, acarretando desequilíbrio psíquico e até tentativa de suicídio?
5) Sofre a educação dos filhos frente ao mau exemplo dos pais, cada vez mais ausentes do lar e atingidos na própria credibilidade.
6) O ambiente dos cassinos é deletério. Favorece a bebida sorvida a largos tragos no nervosismo dos lances. Incentiva a prostituição e o tráfico de drogas e a lavagem de dólares.
Por que será que alguns de nossos representantes no Congresso insistem em ceder ao lobby dos promotores de cassinos?
Já é tempo, para nós, de colocar o bem do povo acima de qualquer vantagem de enriquecimento pessoal à custa de tantos prejuízos morais. Temos que investir nas crianças e nos jovens oferecendo-lhes, em primeiro lugar, a correta hierarquia de valores que estão na base de uma sociedade justa e solidária, conforme a vontade de Deus.
Confiemos na graça divina e no patriotismo de nossos congressistas. Esperamos que, fiéis à sua missão, rejeitem qualquer intenção de aprovar cassinos.
Temos que nos empenhar para que não haja retrocesso ético em nosso país.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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