São Paulo, sábado, 25 de maio de 1996
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Uma imagem deturpada

VICENTE CHELOTTI

Nossa sociedade de consumo é pautada por determinadas regras de mercado de acentuado vigor. Uma delas, talvez a mais importante, é a de marketing e propaganda.
A idéia de utilizarmos fibras da maconha em nossa indústria irá acentuar a imagem minimizante que, de forma deturpada, algumas pessoas possuem da droga. Aliás essa parece ser a finalidade única desse propósito, já que o Brasil é o país do mundo onde mais se produzem fibras nobres, como o rami, a seda, o algodão e outras rústicas similares à da maconha, como são o sisal e a juta.
Cuida-se, assim, de questão que reclama ser animada e analisada por especialistas e não por pessoas leigas, sem qualquer tradição e conhecimento no setor que, inconsequentes, sem avaliar o impacto social de suas proposituras, formulam conceitos e disparam opiniões sobre técnicas agrícolas e de aproveitamento econômico.
Sobre os baixos teores, é forçoso lembrar que, em climas tropicais e terras férteis como as nossas, o princípio ativo da maconha (THC) se eleva a altos níveis, comumente chegando ao índice de 28%. Conforme literatura médica, o uso da maconha, além do estado de dependência, pode provocar tumores cancerígenos, surtos psicóticos, distúrbios cardíacos e, a longo prazo, infertilidade e impotência.
Por outro lado, as dificuldades gerenciais dos necessários mecanismos de controle, a par de dar lugar à fraude, com consequente aumento da oferta, também permitiriam que os óleos extraídos do processamento industrial (canabinol, canabidiol e outros alcalóides) fossem separados, tornando-se restos industriais aptos a produzir o famoso haxixe, potente alucinógeno, de difícil ou até de impossível controle.
De resto, permito-me frisar que a lei penal brasileira classifica o Tetraidrocanabinol (THC) no rol de substâncias proscritas, independente de teores, e que a experiência social, tão bem assimilada pelo legislador, tem demonstrado ser a maconha o primeiro passo no caminho do vício e uso de drogas mais potentes, numa escalada que tanto preocupa a sociedade brasileira.

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