São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Procura-se o estadista

LUÍS NASSIF

O quadro político atual é complexo, mas administrável. Mesmo com os erros cometidos na condução da política inútil, com a quebradeira inútil que se espalhou por toda a economia, o país não está parado.
Um dos problemas da análise macroeconômica é não se dar conta do que ocorre com a base da economia. Fica-se numa análise de indicadores que, em geral, refletem o passado e quase nunca conseguem captar os efeitos de mudanças estruturais.
No ano passado, a mera análise de dados impedia a correta previsão da crise que se avizinhava. Agora, os dados não permitem perceber as enormes transformações que estão em curso.
Ocorreu o mesmo nos EUA, incluindo alguns gurus acima de qualquer suspeita, como Paul Samuelson. Em cima dos indicadores existentes, não se deram conta da revolução da microinformática, e passaram a prognosticar o fim da vitalidade da economia americana.
A revolução econômica passou por seus olhos e eles não conseguiram ver. Aqui, em pleno 1992, falava-se na perda de mais um bonde da história, no exato momento em que se processava o primeiro grande salto de qualidade nas empresas nacionais.
Mudanças
É o que ocorre com o Brasil neste momento. Praticamente não existe um só setor da economia que não esteja passando por reformas profundas. Não é motivo para se minimizar a quebradeira imposta por essa política de juros a imensos segmentos da vida nacional.
Se a política econômica fosse conduzida com um mínimo de conhecimento da realidade, se em lugar da visão monetária de um Chico Lopes, houvesse a visão de engenharia econômica de um Lucas Lopes (seu pai), o quadro seria outro.
Teria sido possível aproveitar melhor o momento, impor menos sacrifícios ao país, e garantir a sobrevivência e o crescimento de empresas e empregos.
Mas, de qualquer modo, há uma soma apreciável de fatores positivos acontecendo, que não são percebidos pela opinião pública, porque falta ação política (macro) da parte do governo.
Desafio
O grande desafio do governo será produzir um fato político relevante, que ajude a acordar a opinião pública, permitindo-a dispor de uma visão de conjunto e perceber o tamanho da modernização que vem por aí.
Este é um desafio para o presidente da República. Até agora, o presidente se limitou a colher os frutos da estabilização e da conquista da Copa do Mundo -que começam a ficar rarefeitos.
Vai ter que deixar de lado a firula, e passar a pensar seriamente em agir como estadista de verdade, não um espectador privilegiado. Um bom início será reler as propostas de privatização com fundos sociais, englobadas no famoso plano K.
Em 1996, a proposta poderá significar para o estado de espírito nacional o que o chute para fora de Baggio (que garantiu a Copa ao Brasil) significou para 1994.
Sobre ela, falaremos no decorrer da semana.

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