São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Cariry coloca em evidência universo feminino no cangaço

Diretor de 'Corisco & Dadá' faz 'Romeu e Julieta' do sertão

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

Foi durante uma entrevista feita com Dadá em 1989 que o cineasta cearense Rosemberg Cariry se inspirou para fazer um filme diferente sobre o cangaço, enfocando o romance dela com o líder Corisco.
Em "Corisco & Dadá", longa que abriu no último sábado o 6º Cine Ceará, Cariry conta a história do romance dos dois em plena decadência do cangaço.
"O cangaço terminou pelas mãos de Dadá. Foi ela quem chegou no bando e enterneceu aquele homem que fazia justiça pelas próprias mãos", afirmou Cariry.
O que ele fez foi enfocar o universo feminino no cangaço, mostrando como era a relação dos dois de forma poética.
Dadá tinha 73 anos quando foi entrevistada por Cariry. Ele pretendia filmar sua participação em "Corisco & Dadá", mas ela morreu de câncer no ano passado.
O encontro
Corisco e Dadá tiveram um começo bem diferente do tradicional amor à primeira vista. Segundo Cariry, existem algumas versões para o encontro. "Mas o primeiro sentimento foi ódio profundo."
Uma das versões é que o encontro aconteceu em 1927, quando Corisco resolveu vingar um mal-entendido com um fazendeiro sertanejo e, lá chegando, viu Dadá, então com 12 anos.
Em vez de matar o fazendeiro, resolveu raptar a menina para violentá-la e abandoná-la. Fez o que pretendia, mas não a abandonou.
Dadá passou a viver sob vigilância no bando. "Três anos depois, eles começaram um romance e tiveram três filhos, que morreram em embates."
A maternidade e a dor da perda dá um caráter de tragédia grega à toda a história, segundo o cineasta.
Cariry afirmou que tanto Dadá como Corisco são protagonistas. "Na época, com o cangaço em decadência, capitão Corisco vagava como um fantasma pelo mundo, seu mito estava morto."
Mas o mundo romântico do cangaço estava no fim. "O Estado Novo impunha a visão de modernidade e o preconceito contra o cangaço ficou até hoje. Tomam o cangaço como se fosse folclore e não um momento vivo da história."

A jornalista Daniela Rocha viajou a Fortaleza a convite da organização do 6º Cine Ceará

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