São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Cartuns substituem plim-plim e não funcionam

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

As vinhetas institucionais da Rede Globo já há certo tempo deixaram de lado as acrobacias eletrônicas. Foram substituídas por cartuns assinados por desenhistas variados.
O artesanato das novas vinhetas desfaz a marca "high-tech" que fez a imagem da emissora. E é menos poderoso.
O país do futuro se acostumou a se ver representado no movimento abstrato do logotipo redondo. Nesses clipes, a imagem futurista estava em perfeita sintonia com o efeito sonoro do plim-plim e com o sonho da modernidade.
Os efeitos especiais nas vinhetas computadorizadas ganhavam a profundidade do vídeo. Convidavam o telespectador a explorar uma dimensão pouco experimentada do espaço televisivo. Embora em menor escala, as brincadeiras interativas das vinhetas em que acontecimentos televisivos pulavam da tela para ganhar a sala de estar do telespectador, e vice-versa, também.
Concertista
A nova linha de vinhetas rompe com esse padrão. A ênfase no mistério da forma eletrônica foi substituída pela ênfase no enredo do desenho assinado.
São historinhas curtas que sempre terminam com uma referência à presença da televisão nas mais diversas cenas do cotidiano.
O novo estilo não funciona. Nem a repetição da mesma vinheta duas vezes seguidas -no começo e no fim de um mesmo intervalo comercial- resolve.
As histórias passam quase despercebidas. As imagens não ultrapassam a superfície da tela. E não combinam com o plim-plim.
Os diversos cartuns exaltam o poder magnetizador do sinal sonoro. Como naquele em que o concertista só consegue arrancar aplausos da platéia depois de tocar o plim-plim ao piano. O efeito de som fala mais alto e acaba por encobrir o enredo.
A conhecida marca sonora da Globo dispensaria o auto-elogio. Ao longo dos anos, colada ao globo platinado, se consolidou como um poderoso sinal que marcava um tempo coletivo.
Com uma coerência de forma e conteúdo impressionante, pontuava a programação. Lembrava os telespectadores em suas casas de que milhares de outras pessoas estavam a realizar a mesma atividade.
Em todo território brasileiro, uma comunidade imaginária se identificava com aquela marcação. As novas vinhetas não conseguem o mesmo efeito. Sinal de tempos de fragmentação dos projetos nacionais.

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