São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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O quintal do vizinho

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Na semana passada, uma caravana de empresários invadiu Brasília. Produziu-se, no Dia da Indústria, uma senhora manifestação. Lá estavam 2.800 senhores engravatados.
Aparentemente, protestavam. A presença de Fernando Henrique e a ambiguidade dos discursos -ora críticos, ora bajulativos- torna difícil dizer contra o que ou contra quem.
Talvez alvejassem o Congresso. Digo talvez, assim no condicional, porque Fernando Bezerra, presidente da CNI e principal organizador do ato, ostenta, ele próprio, a condição de senador da República.
É sabido, de resto, que o grosso do Legislativo teve a campanha eleitoral bancada por contribuições financeiras da chamada iniciativa privada. Os arquivos do TSE bem o demonstram.
Mas deixe-se de lado a motivação do protesto. A impressão, vaga que seja, de que os empresários vituperavam contra alguém ou alguma coisa já nos basta.
Reportagem publicada ontem pela Folha demonstra que os industriais brasileiros esqueceram de aparar a própria grama antes de tomar o avião para apontar os defeitos dos jardins brasilienses.
Revelou-se que parte da verba do Sesi e do Senai, dinheiro público destinado ao trabalhador, está sendo desviada pela indústria. Investe-se na construção de luxuosas federações, em operações imobiliárias suspeitas, até em campanhas eleitorais. Absurdos inomináveis.
As federações estaduais da indústria estão como que penduradas nas duas entidades. Tome-se o exemplo da Fiesp, de todas a mais rica: 87% de seu orçamento vêm da arrecadação do Sesi e do Senai.
É desnecessário mencionar a utilidade e a importância dos serviços prestados pelo chamado sistema dos "esses". Não se está defendendo a sua extinção, que fique claro. Mas é hora de abrir os porões do Sesi, Senai e congêneres como Sesc, Senac, Sebrae etc. Está saindo dali um desagradável aroma de peixe podre.

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