São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Jogo de cena

VALDO CRUZ

Brasília - Antes da derrota na reforma da Previdência, auxiliares do presidente Fernando Henrique defendiam as negociações com as bancadas fisiológicas do Congresso como algo natural na democracia.
É interessante ouvir os argumentos de um desses auxiliares, com sala no Palácio do Planalto.
Segundo ele, durante os governos militares e Sarney a turma que hoje está no poder precisava de uma arma para lutar pela democracia brasileira.
Decidiu, então, vulgarizar o uso da palavra fisiologismo para criticar a distribuição de favores.
Não tinha nada de errado, mas na época era preciso fazer de tudo em nome da social-democracia. Tradução: o fim justificava os meios, algo bem distante do antigo idealismo tucano.
O governista afirma que agora o grupo de FHC está sendo vítima de sua própria criação. E vai levar tempo para que a sociedade entenda que é legítimo barganhar votos.
Afinal, fazer nomeações e distribuir verbas politicamente acontece no mundo todo. É assim nos Estados Unidos e no Japão, destaca o auxiliar de FHC.
Engraçado o raciocínio do amigo do presidente. Antes, em nome de uma "luta justa", justificava-se atacar o fisiologismo como algo imoral, ilegal e indecente. Hoje, não. Tem de ser visto como um "instrumento legítimo".
Depois da derrota na Previdência, o governo chegou a dar sinais de que tinha mudado de opinião. Escalou o ministro Pedro Malan (Fazenda) para fazer duros ataques ao fisiologismo.
Na TV, o ministro criticou "aqueles que procuram extrair pequenas vantagens pessoais em atos de fisiologismo implícito e explícito".
Logo depois, um governista traduzia a reação palaciana. A barganha acabou para os aliados rebeldes -aqueles que ganharam favores, mas traíram o governo.
Para os fiéis, não. Nesse caso, a troca de favores continua sendo um instrumento legítimo.

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