São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Escassez de banho incomoda brasileiros

PAULA MEDEIROS DE OLIVEIRA
DA ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

Sair de casa para aprender um idioma em outro país implica aceitar todas as diferenças culturais que fazem parte desse pacote.
Adriana Veiga, 18, trancou a faculdade de administração que cursava no Recife para "aprender inglês no lugar onde ele surgiu". "Acho o inglês, falado na Inglaterra, mais chique."
Na chegada, o primeiro impacto foi dividir uma casa com outros 11 estudantes. "Nunca tinha vivido em uma casa tão grande e com tanta gente. No Brasil, eu moro com meus pais e um irmão."
Adriana conta que mora com pessoas muito unidas e que precisou de pouco tempo para se ambientar. "São todos estrangeiros e sabem o que é saudade de casa", diz ela.
O frio que encontrou em Cambridge, em fevereiro, foi outro motivo de estranheza para quem estava acostumada com o verão pernambucano.
Gelada
Não importa a temperatura apresentada pelos termômetros ingleses (em Cambridge, no inverno, o frio pode chegar a -8°C), o banho é sagrado na vida da gaúcha Carolina Cimenti, 17.
Em abril, quando chegou, a estudante não podia imaginar que a casa grande, bonita e confortável onde foi morar lhe reservava uma fria: "Só posso tomar quatro banhos por semana. É norma da casa", conta ela.
Para contornar a situação, Carolina arruma "jeitinhos". Junto com ela, dividindo o mesmo teto, há uma suíça que não divide as mesmas preferências. "Eu uso os banhos que sobram dela."
Nas casas onde moram Erica Paulino e Maria Eugênia de Mathis não existe chuveiro, só banheira. "A gente faz verdadeiros malabarismos para lavar a cabeça." Elas contam que uma menina trocou de família, pois não conseguia tomar banho de banheira.
Uma norma da casa que Carolina não contesta é a proibição para lavar e pendurar roupa. Quem fica com esse serviço é a dona da casa.
Ivan Pinto, 20, saiu de Belo Horizonte para ficar seis meses na Inglaterra. "Entrei em pânico quando saí do aeroporto e vi o motorista pegando a pista da esquerda", conta ele, quatro meses depois, ainda tentando se acostumar com as mãos e contramãos.
(PMO)

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